06 setembro 2008

de passagem

A ferrovia foi durante cerca de um século o meio de transporte mais utilizado e aquele que permitia aos viajantes percorrer grandes distâncias de modo confortável.
Na época, virtude do ainda fraco desenvolvimento tecnológico e à consequente baixa eficiência das máquinas, as viagens eram longas e morosas, sendo amiúde necessário efectuar paragens em locais estratégicos, onde o comboio reabastecia de carvão e água e onde os passageiros podiam, durante um curto período, retemperar forças.
Nas estações onde tais escalas decorriam os passageiros usavam os lavabos, tomavam uma bebida e eventualmente uma pequena refeição; aproveitavam ainda a pausa para esticar as pernas, andando ao longo da plataforma e para comprar uma pequena recordação da zona, ou para enviar um postal para casa.
Estas estações eram aparentemente limitadas em recursos. Frequentemente situadas em locais remotos, sem grande interesse sócio-geográfico, mesmo que detendo por vezes alguns aspectos pictorescos dignos de registo e que poderiam despertar certos apetites aventureiros, por regra não permitiam aos passageiros sequer pernoitar, pelo que raramente (se alguma vez) um viajante ficou famoso por ter decidido encurtar a viagem, tendo passado a residir num tal lugar - nem mesmo aqueles que, inspirados pelas virtudes do local e pelo cansaço da jornada, tenham hesitado e ficado apenas por um instante.
Poder-se-á alegar que a responsabilidade por tais decisões recaía na importância que o destino tinha para os viajantes, ou ainda que o prazer da viagem que cada um tinha empreendido os inibia de sequer ponderar em qualquer aventura dessa natureza; na realidade, era a estação que falhava em promover a qualidade dos serviços prestados, as virtudes do local, a hospitalidade das gentes, da gastronomia e, acima de tudo, a vida despreocupada e livre que se poderia desfrutar no lugar.
Ou, de um modo muito mais simples: aquele sítio era mesmo uma merda.

1 comentário:

Anónimo disse...

Glad to see you're back!
Embora discorde completamente dessa conclusão por ser demasiado simplicista..