31 março 2009

pérolas

Há coisa de minutos, na recepção de uma oficina, um cliente solicitava um serviço à viatura dele. Coisa normal, revisão, mudar óleo e filtros, verificar luzes e Ah, é verdade, queria que vissem também o travão de mão, faz um barulho estranho, um amigo meu diz que o carro deve precisar de axilas, disfarcei um sorriso, são daquelas coisas que saem, ainda que não saiba o que é uma maxila o Sr. deve saber o que é uma axila, não faria uma confusão daquelas, confidenciava eu aos botões da minha camisa. Passaram talvez dois minutos, o confuso cliente dirigia-se para a porta e iria permitir-me comentar tal deslize com o pessoal da recepção, por favor despache-se saia depressa que o sorriso contido e surdo está a tornar-se em incontida gargalhada sonora, quanto mais penso nisto menos aguento, quando ele se vira, segurando a porta na mão, Muito obrigado e por favor liguem quando o carro estiver pronto, saiu e, lá de fora, temendo que não o tivessem ouvido à primeira, E não se esqueçam das axilas, que é o mais importante.
Explodi!

a raposa dentro de nós

Raposa matreira Foi-se pôr-se debaixo D'erguida parreira. Cos olhos num cacho Das uvas mais belas, Contando com elas; Armou-lhes três pulos, Porém autos nulos, Que não lhes chegou: De novo saltou, Mas teve igual sorte; Buscando outro norte, Num ar de desdém, Torcendo o nariz, Com gestos de quem Por más não as quis, Foi pernas metendo Com lépido passo, E disse entendendo, Qu'as outras a ouviam: Estão em agraço, Nem cães as comiam. Há muitos humanos Que seguem tais planos, Por coisas se empenham Que sôfregos querem, E delas desdenham Se não lhas conferem.



Esopo / La Fontaine

(Agradece-se a quem consiga acertar os parágrafos...)

the day the earth stood still

Foi em que data?

30 março 2009


Lucky?

28 março 2009

Ganhar e perder


26 março 2009

this mortal coil

Os anos e o peso deles; o tempo, essa dimensão imoral, que não pára nem perdoa. A memória, que se estende a décadas, abrangendo dois séculos; os que nos antecederam e desapareceram, uns no tempo justo, outros bem antes dele; os que nos sucedem, os filhos, que dizemos nos fazem velhos. Os netos...
Já fui avô. Relação afim, já assisti a esse estigma, já o senti em pele alheia, perto da minha. Dada a afinidade e os hábitos então vigentes, a voz infantil apenas proferiu o meu nome e não a relação que nos unia, pelo que ouvir pela primeira vez e sentir-me classificado como alguém a três gerações de distância...
Dizem que a verdade vem da boca das crianças; eu digo que não as educam.

25 março 2009

Não tenho por hábito ler blogs. Seguramente que faço mal.
E é um orgulho conhecer quem escreve assim. E assim também.

24 março 2009

quase por acaso

Os acidentes de viação, por menores que sejam os danos materiais que provoquem e mesmo na ausência de danos físicos, são sempre causadores de perturbações ao normal fluir do tráfego, tendo inevitáveis consequências para os demais utilizadores da rodovia.
Principalmente para os que não são inocentes.

23 março 2009

palavras simples

Se houve situações em que não cheguei a ouvir determinadas palavras que eram, afinal, aquelas com que queria ver recompensada uma qualquer atitude minha, uma outra, em que nada esperava receber em troca de um quase nada, acabou por ser generosamente remunerada.
Tal como seguramente não há almoços grátis, tão pouco existem jantares ao mesmo preço: mas saber que me tornei no "cozinheiro preferido" é certamente o maior e o melhor pagamento que alguma vez posso ter esperado.

20 março 2009

Quando a esmola é grande...

18 março 2009

coisas bonitas

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Estrela da Tarde
José Carlos Ary dos Santos

16 março 2009

over capricorn

Virtude de alguma alergia a transportes públicos, resisti durante algum muito tempo a aceitar o convite de um amigo, motorista de empresa pública dedicada ao transporte de pessoas, para uma boleia graciosa. Claro que as muitas horas a passar no veículo motivavam a persistência da recusa, mas a maior insistência no convite acabou por prevalecer.

Uma vez aceite, foi necessária uma sexta-feira de ausência no trabalho para tal deslocação. Asas para que te quero, não tinham passado nove horas sem que as asas do Niemeyer se pudessem vislumbrar lá do alto. Calor seco, betão sem tinta, alcatrão sem remendos, alguma estrada para fazer, convite para 2 jantares, o primeiro na asa norte, o segundo para lá da asa norte, do outro lado da água. Quedei-me pelo primeiro, quase tanta conversa quanto vinho tinto, a língua era comum, os sabores de idioma castelhano mas sotaque bem meridional, manteve-se o latim quando a cor da bebida clareou. O que não deixámos clarear totalmente foi o céu, que era tarde e dormir faz sempre parte dos planos de um qualquer fim de semana - mesmo de um menos normal.
Umas três horas de sono e outras tantas de Sol bastavam para recuperar algumas das forças e avermelhar partes habitualmente menos expostas, enquanto a hora de almoço se avizinhava e o feijão era confeccionado. Da da cana de açúcar produzem-se combustíveis biológicos, de odor quase enjoativo quando queimado; curiosamente, torna-se menos enjoativo quando a um outro derivado se adiciona o próprio e fruta. Embora as capacidades energéticas da resultante permaneçam teoricamente quase inalteradas, é necessária alguma energia adicional para conseguir manter o ritmo para o jantar, onde se regressava ao tinto lusitano, em jeito de balanço para um bar aberto (o clima a tal obrigava) num tal de AABB.
O dia dito do senhor começava cedo com o ponto mais alto da visita, vista e tal, em antecipação a novo repasto, desta vez em ambiente jovial - em estrangeiro acho que se diria mesmo gay.

Destino ao terminal dos transportes públicos, banco reclinado e dormir até casa. Um fim de semana sem gastar um avo de euro.
Só fiquei meio chateado por não me terem deixado guiar aquela coisa...

12 março 2009

tamagoshi

Por vezes, sinto que se não alimento este blog com um tanga qualquer ele pode acabar por morrer.

08 março 2009

in someone else's back

Haverá melhor?
E os avisos tinham chegado.


to be continued...

06 março 2009

B.A.U.?

No news still is good news.

04 março 2009

vozes do além

Nem sabemos de onde vêm, por que razão, nem com que finalidade.
Obras do acaso, que nos dão motivos para sorrir, que nos dão motivos para acreditar que existem janelas abertas por detrás das portas que se fecham. Que teimamos em tentar entender - não fossemos nós pessoas curiosas. Que se voltarão a fazer ouvir. Talvez.
Muita coisa em muito poucas palavras.