30 março 2007

espreitar 3

Esta espreitadela justifica o mais recente link. E explica-o, também.

estatísticas 3

Este mês registaram-se marcos importantes.
1 (a primeira) referência externa à minha existência
1 novo contador de visitas, que veio complicar ainda mais as contagens
1 novo título, que nem sei se vai durar
2 novos links
5 aniversários importantes para mim
2 mil e tal visitantes - não sei em que contador acreditar
9 linhas de índice, todas remodeladas
36 publicações
E nada disto se passou por ter demasiado tempo disponível.

29 março 2007

erste lektion

A língua alemã é relativamente fácil.
Todos aqueles que conhecem as línguas derivadas do latim e estão habituados a conjugar alguns verbos podem aprendê-la rapidamente, dizem-nos os professores de alemão logo na primeira lição.
Primeiro, pegamos um livro em alemão - neste caso, um magnífico volume, publicado em Dortmund, e que trata dos usos e costumes dos índios australianos Hotentotes (em alemão "Hottentotten").
Conta o livro que os cangurus (Beutelratten) são capturados e colocados em jaulas (Kotter), cobertas com uma tela (Lattengitter) para protegê-las das intempéries. Estas jaulas, em alemão, chamam-se jaulas cobertas com tela (Lattengitterkotter) e quando possuem no interior um canguru, chamamos ao conjunto "jaula coberta de tela com canguru" (Lattengitterkotterbeutelratten).
Um dia, os Hotentotes prenderam um assassino (Attentäter), acusado de ter matado uma mãe (Mutter) hotentote (Hottentottermutter), mãe de um rapaz surdo e mudo (Stottertrottel). Esta mulher, em alemão, chama-se Hottentottenstottertrottelmutter e ao assassino dela chamamos, facilmente, Hottentottenstottertrottelmutterattentäter. No livro, os índios capturaram-no e, sem ter onde colocá-lo, puseram-no numa jaula de canguru (Beutelrattenlattengitterkotter). Mas, incidentalmente, o preso fugiu. Após iniciarem a busca, rapidamente apareceu um guerreiro Hotentote a gritar:
- Capturámos o assassino! (Attentäter)
- Qual assassino? - pergunta o chefe indígena
- O Lattengitterkotterbeutelrattenattentäter - responde o guerreiro.
- Como? O assassino que estava na jaula de cangurus coberta de tela? - diz o chefe dos Hotentotes.
- Sim, o Hottentottenstottertrottelmutteratentäter (assassino da mãe do rapaz surdo e mudo).
- Ah, raios - diz o chefe – podias ter dito desde o início que tinhas capturado o Hottentotterstottertrottelmutterlattengitterkotterbeutelrattenattentäter (assassino da mãe do rapaz surdo e mudo que estava na jaula de cangurus coberta de tela).

Assim, através deste exemplo, podemos ver que o alemão é facílimo e simplifica muito as coisas.
Basta um pouco de interesse.

(texto que me foi endereçado por mail há já uns anos, cuja autoria e origem desconheço)

28 março 2007

... or is it something worse?



Esta quase que podia fazer parte da história.
Favorita, definitivamente.

story - part 5

Mid 2000 and I'm so sorry...



Deveria colocar aqui um link para uma canção que não encontro no youtube - nem noutro lugar qualquer, para o efeito. Tal como os anteriores capítulos, era o que mais ouvia na época, cuja letra mais sentido fazia e onde a melodia ajudava imenso.

Wonderland, Nothing New

27 março 2007

f

Não costumo postar sobre as minhas actividades diárias, deixo esse hábito para outros.
Ou antes: para outras, uma vez que detecto que quem deposita esse resumo sob a forma de post são geralmente mulheres e também pela minha experiência, que indica que essa é uma necessidade feminina, já que as pessoas com quem vivi sempre fizeram questão de verbalizar esse resumo e, mais preocupante e irritante, me obrigavam a fazer o mesmo. Falharam sempre em entender a minha total ausência de necessidade e principalmente vontade de fazê-lo.

Dito isto e contradizendo isto, sinto hoje necessidade de descrever o meu final do dia de ontem.

Programei a minha saída do escritório cedo, por causa de uma reunião extra laboral. Era um cedo relativo, mas sair às 20h00 é cedo, para mim.
Claro está, comuniquei atempadamente a reunião; não obstante, ela criou a legítima expectativa de que ainda me poderia ver antes do final da noite.
A reunião prolongou-se até perto da uma da manhã, logrando-se a expectativa - para ambas as partes, não apenas para ela. "Paciência, fica para amanhã", teria sido a reacção natural: foi, pelo menos, a minha reacção.
Poderia até esperar uma reacção mais viva, "Chatice, fiquei desiludida, podias ter saído mais cedo da porcaria da reunião e vinhas ter comigo para nos podermos ver, foi falta de atenção tua", mas não, nada disso, "És uma merda, contigo nunca se pode contar, desiludes-me sempre, vai à merda, não te quero ver mais", seguido de um telefonema às 3 da manhã, "esquece esta relação", quando apenas umas horas antes a mensagem era "Amo-te, és a melhor pessoa que há, fazes-me sentir a mulher mais feliz do mundo".

É a frustração total por não conseguir deixar de gostar de alguém que não retribui o carinho e a dedicação, alguém que não consegue apreciar o que sou e o que dou. Ou antes, que o faz: tudo ou nada. É a irritação comigo mesmo por time and again cair na mesma tentação, ser mal tratado, afastado, preterido e depois, ao menor chamamento, estar de volta, que nem cão adestrado. É a frustrante sensação de saber conscientemente que gosto de alguém que carece de equilíbrio e que não tenho a capacidade para a equilibrar, queria tanto ser capaz... É a virtude do querer e gostar de ajudar transformada em problema. Grave.
Procurei incessantemente alguém de quem pudesse gostar mais, alguém que me pudesse fazer esquecer. Encontrei. Não fui retribuído. Porque mesmo quando tudo nos aponta naquele caminho, mesmo quando se sente mais do que a imaginação alguma ver permitiu, "nunca se sabe"... pois não?

Quando será que acerto?

23 março 2007

marco

Constitui para mim facto relevante o ter o endereço deste blog mencionado neste espaço muitas vezes denominado de blogosfera. Tanto quanto sei, esta é a primeira que me é feita, tornando por isso a dita referência ainda mais significativa: detectei-a num outro lugar que faz parte da minha ronda de visitas regulares, lugar esse pertencente a uma vizinha (não sei se originalmente saloia, mas reside no mesmo Concelho), que publica a ritmo alucinante pensamentos aparentemente simples, tornados interessantes pela forma bem disposta como são apresentados.

Só não afirmo que a menção de que fui alvo é total motivo de orgulho por causa do tema com que sou relacionado. Mas a culpa é minha, novamente por ter falado de mais: não me devo queixar...

eu gostaria de ter um blog…

… desses muito bem escritos, como os de autores que aliam na perfeição um conteúdo interessante e perspicaz a uma forma arredondada (ou pontiaguda, consoante o tema), de modo a que o leitor melhor sinta as intenções subjacentes, que conseguem fazer pregar o visitante ao ecran, obrigando-o a ler segunda vez, não por não ter entendido o assunto na primeira leitura, mas por terem sentido o texto tão intensamente

Eu gostaria de ter um blog desses, significaria que a minha veia era efectivamente literária, não apenas veia de aprendiz de escritor, alguém que não consegue mais que juntar letras e palavras de forma perceptível, que tenta não cometer (mas comete) erros gramaticais ou simples dislexias momentâneas que sobrevivem a uma rápida e quase cega revisão.

Eu gostaria de ter um blog desses, daqueles que muitos lêem e se tornam populares, forma de ver reconhecida a capacidade do autor em versar de forma cativante ainda que sobre matérias não interessantes, que angariam aliados e amigos virtuais através das características da escrita.

Se eu tivesse um blog desses seria também por ter tempo e espaço físico para pensar mais em mim, no mundo, na vida; seria por ter disponibilidade temporal para ler, ouvir, visitar; seria por ter uma vida mais interessante e mais digna de ser lida.
Se assim fosse, sim, eu gostaria de ter um blog. Desses.

22 março 2007

no man's an island?

A winters day
In a deep and dark december;
I am alone,
Gazing from my window to the streets below
On a freshly fallen silent shroud of snow.
I am a rock, I am an island.

I’ve built walls,
A fortress deep and mighty,
That none may penetrate.
I have no need of friendship; friendship causes pain.
Its laughter and its loving I disdain.
I am a rock, I am an island.

Don’t talk of love,
But I've heard the words before;
It’s sleeping in my memory.
I won’t disturb the slumber of feelings that have died.
If I never loved I never would have cried.
I am a rock, I am an island.

I have my books
And my poetry to protect me;
I am shielded in my armor,
Hiding in my room, safe within my womb.
I touch no one and no one touches me.
I am a rock, I am an island.

And a rock feels no pain;
And an island never cries.

size matters

Não, garanto que o assunto não é esse. É outro e vem na sequência do anterior.
Preciso de ajuda: alguém que me aconselhe no sentido de fazer entender a minha empregada doméstica de modo a que ela entenda que os tachos de maior dimensão não cabem dentro dos mais pequenos (por mais que passem meses e meses de tentativas), fazendo com que, uma vez empilhados uns sobre os outros, não corram o risco de me cair em cima a um simples abrir de armário.

omoletes sem ovos

Em tom quase de desdém, mencionava eu ontem os blogues onde temas de culinária abundam. Mas não posso deixar de dar a receita para o meu esparguete bolonhesa, a que usei ontem ao jantar.

De modo simples mas organizado (é a únca zona do lar onde consigo este feito), juntar os ingredientes todos na bancada;
Descobrir que não há esparguete;
Encolher os ombros e decidir pelo tagliatelle (em português julgo ser talharim);
Descobrir que não há tomate;
Dizer uma palavra começada por F e continuar a cozinhar mesmo assim.

Servir sem dizer nada a ninguém, na esperança de que não surjam reclamações.




O meu tinha melhor aspecto que este, ainda assim.

21 março 2007

espreitar

Nas deambulações que por vezes faço por blogs alheios vejo que há quem goste de compartilhar receitas com os leitores. Hoje encontrei outro blog onde a culinária parece ser o assunto central. Não tenho a certeza, no entanto.

vénus vs marte


A eterna comparação entre direitos, deveres, igualdade, descriminação...
Pensar no tema levou-me a imaginar duas situações distintas. A primeira é uma situação que julgo comum, se não frequente, cujo teor é aceite de modo mais ou menos generalizado. Diz a funcionária:
"Chefe, estou com dores menstruais. Preciso de ficar em casa hoje de tarde."
Presumo que a resposta, ainda que eventualmente enfatuada, será afirmativa.
Imaginemos agora o cenário alternativo. O funcionário:
"Chefe, estou com dores no pénis, provocadas por uma erecção que não controlo. Preciso de ficar em casa esta tarde, para ver se isto me passa."

Alguém quer sugerir a resposta da chefia?

tecnologia nossa amiga

Quem nunca se terá perguntado: "Que raio fará mover a seta do rato?"
O mistério foi agora desvendado.



Contribuição do Pejó


Esta tanga demora algum tempo, há que ter paciência...

20 março 2007

me and my big mouth

Falo pelo prazer de falar, de compartilhar conhecimento e experiências. Falo pela necessidade de transmitir a quem importa o que estou a sentir em cada instante. Falo, simplesmente. Demasiado.

Esta frase está longe de ser nova - constitui um auto-plágio, situação que parece ser ou ter sido moda nalguns círculos que não os meus.
Modas à parte, tive hoje a oportunidade de perceber que eram acertadas as palavras que um dia usei para me criticar, para me definir. E parece que, apesar da consciência dos erros, teimo em repetí-los, não aprendo a não ser à custa de uma e de outra ocasiões em que entendo que deveria ter estado calado. Aquilo que não digo não faz mal a ninguém, o que me sai da boca (ou através dos dedos, no caso presente) é que parece ter efeitos recorrentemente negativos.
Por melhor que seja a intenção.
Deve haver uma frase qualquer de um qualquer autor que defina esta situação. De minha autoria posso dizer que sempre que abro a boca, nunca entra mosca.

19 março 2007

coffee and cigarrettes

... mas nada de beatas, que restos não são uma alimentação correcta.

s


Sábado
Sushi
Sofá
SportTV
Sporting
Sozinho em casa
...still?
Sei lá...





foto: www mais futebol iol pt

18 março 2007

#2

Hoje, lembrei-me outra vez.

15 março 2007

estatísticas 2

Escrevi 3 vezes o mesmo post e consegui ter uma taxa de sucesso de 100% a apagar inadvertidamente o texto antes de o conseguir publicar, guardar ou fosse o que fosse.
Mantenho o título. Agora terá que haver um "estatísticas 3".

thursday

Por motivos alheios à minha vontade e ao meu controlo, parece que quinta-feira é o dia eleito pelos meus 3 leitores para as visitas a este humilde lugar. Talvez a explicação seja mesmo apenas esta:


Monday you can hold your head
Tuesday wednesday stay in bed
Or thursday watch the walls instead
It's friday i'm in love

The Cure*, Friday I'm in Love, Wish, 1992

*just came to my knowledge that this band first started out in Crawley back in '72.
Crawley is just a few miles up the A23 from my "home away from home" city of Brighton, Sussex.

14 março 2007

frangos IV - como tratar deles

Dica para as viagens de avião:
INTRUÇÕES
Se estiver sentado ao lado de um chato:
1. Abra a mala do computador com muita calma
2. Pegue no computador
3. Ligue-o
4. Assegure-se que o chato do lado está mesmo a olhar para o ecrã
5. Feche os olhos e incline a cabeça para o céu
6. …e abra este link.



contribuição do Ambrósio

traços III

Tenho a tendência para admirar (e até invejar) quem tem capacidades que não domino.
Olho com uma inveja saudável quem consegue fazer de um carro aquilo que não consigo, quem faz aquela curva sem deixar escorregar demasiado e consegue esperar pelo momento certo para acelerar, sem perder tempo - na gíria, quem consegue andar para a frente. Eu ando muito mais para o lado.

Estas palavras de há meses eram infundadas, afinal, sou capaz de desenhar traços.
Bem... não exactamente traços, foram antes riscos e relevos o que consegui desenhar: na frente do meu carro e (menos) na traseira de um outro concorrente. O tal 3º take.



Sim, a dimensão da foto é propositada. Quem quiser que veja melhor.

13 março 2007

estatísticas - 3º take

Não há duas sem 3

12 março 2007

one

Para começar bem a nova semana, uma versão nova de uma canção menos nova.


08 março 2007

index

Decidi hoje que vou limpar os índices quase todos: estão uma merda, ninguém os entende.
Nem eu.

espreitar 2

Tenho tido ali ao lado dois links a outros tantos blogues. Um deles, como referi na primeira vez que fui espreitar, foi o reponsável pela minha iniciação nestas coisas, quer pelo exemplo, quer pelo modo directo como me incentivou a publicar (na verdade, o tipo passou-se, disse-me que eu devia publicar a sério, em papel... mas como ninguém é perfeito...).
Acresce ao facto o termos uma designação comum - ou quase.

O segundo, a conta 27, é de um padeiro meu conhecido, julgo que inspirado por mim para se iniciar nestas andanças. Na verdade, deixou de publicar à mesma velocidade com que começou... mas o link subsiste, em caso de ele reconsiderar.

Hoje estabeleço mais uma ligação. E explico porquê.
Por vezes, dou por mim a vaguear por blogues alheios. Páro, olho e escuto (quando tem som), geralmente atravesso sem ligar mais. Até há algum tempo, houve uma única vez em que parei em alguma coisa que valia a pena, o tal passeio que merecedor de referência - o tal que desapareceu. Depois disso, encontrei um outro onde me detenho e onde deposito breves comentários, de onde destaco esta entrada. Não conheço de todo a autora, que se diz jovem e saloia: e isso quase que bastava.

Resta afirmar que para já não há mais links porque daria demasiado nas vistas.

estatísticas - 2º take

É com grande tristeza que constato a ausência de preocupação sobre a minha integridade física pós-acidente. Nem uma ameaça de comentário sobre o assunto... nem meia...

07 março 2007

story - part 4

This was when...

estatísticas

Não faço ideia de quais as estatísticas nacionais sobre acidentes de viação, sei apenas que são vergonhosas. Conheço, no entanto, os meus números e sei que tenho tido sorte ao longo destes anos.
Mas estatísticas são isso mesmo, não passam de uma colecção de números e contagens de ocorrências, que podem ser utilizadas para tentar eventualmente servir de modelos de previsão para acontecimentos futuros.
Nem sempre.
Na sexta-feira passada, a frente esquerda do meu carro teve um encontro imediato e não premeditado com a traseira direita de um outro, que seguia à minha frente, fruto não de distracção nem de azar, antes de excesso de confiança e de uma saída mais tardia de casa, que obrigava a não perder tempo nos cruzamentos. Como consequência, frente esquerda destruída, carro inoperante e a promessa de uma estadia na oficina nunca inferior a umas 3 semanas. E ainda a necessidade de utilizar a minha jóia preferida para as deslocações diárias.
Se as minhas estatísticas pessoais fossem modelos previsionais fiáveis, só daqui a uns sete anos teria recebido o impacto de um objecto estranho que não consigo identificar no pára-choques frontal. Nunca ontem à noite.

06 março 2007

território desconhecido

- Não vás por aí!
- Por onde queres que vá, então?
- Segue-me, vem atrás de mim, que te parece?
- Não vejo nada, não te posso seguir.
- Sim, isto está escuro. Mas ao escolher este caminho já sabias que ia ser complicado, sem luz. Olha, fazemos assim, dou-te a mão e ajudo-te: deste modo, mesmo que não vejas o caminho, pelo menos não te perdes de mim.
- O que me faz confusão é como consegues saber onde eu estou, no meio desta escuridão toda. E como consegues saber por onde ir.
- Vou confessar-te duas coisas. A primeira é que é são as tuas palavras que me levam até ti, são elas que fazem com que saiba sempre onde estás.

- Então?
- Então o quê?
- Disseste que eram duas coisas, só confessaste uma.
- Pois foi.
- Sim, e então? Não vais dizer a outra?
- Não é fácil… mas está bem, eu digo: a segunda, é que eu também não sei por onde ir. A verdade é que também na escolha do caminho eu oriento-me pelas tuas palavras.
- Como?
- Sim, é isso.
- Queres explicar?
- Não sei se sei…
- Tenta!
- Está bem.

- Este caminho é novo para mim, nunca tinha vindo por aqui. Preciso que vás falando comigo para eu ter o meu instinto activo, para ter a certeza de que não te estou a levar para onde não queiras ir. Se tropeçares, avisa, não te esqueças; se eu tropeçar, ficas logo a saber, não te preocupes.
- Já te disse que tenho medo do escuro.
- Eu também. Mas eu tenho uma relação esquisita com o medo: enfrento, vou de frente para o que me assusta, convenço-me de que consigo vencer. Aliás, se me convenço disso, já não é medo, passa a ser uma coisa diferente, uma espécie de desafio.
- Gosto de desafios.
- Já reparaste que é a primeira vez que fazes uma afirmação, que não te limitas a fazer uma pergunta? Obrigado, finalmente facilitas-me a vida.
- Pára com isso, não era para agradecer. Nem faço de propósito para estar sempre com perguntas, é uma questão de feitio. E esta afirmação era fácil, acredita: tenho dificuldade em ter a certeza sobre seja o que for, faz parte de mim. Posso… posso fazer outra pergunta?
- Claro!
- Não consigo entender porque insistes em ajudar-me neste caminho…
- Respondo-te de forma muito simples: é a minha natureza. Faz parte de mim.

memória

Nesse outro dia, uma criança recém-nascida, deitada inerte numa estufa, de olhos negros bem abertos e olhar fixo em lado nenhum, fazia-me também verter lágrimas de alegria.

memória

E nesse dia chorei de alegria.

03 março 2007

dia 3

São 204

02 março 2007

story - part 3

Sommer '85. Noch unterwegs.


01 março 2007

desta água...

- Bom dia Júlio – cumprimentou Ricardo ao entrar no café.
- Dr. Ricardo, essa saúde?
O Júlio, agora com mais de 70 anos, recebeu uma educação conservadora que o levou a manter um tratamento deferente para com os clientes mais respeitáveis, tendo progredido apenas de “Menino Ricardo” a “Sr. Alferes”, fixando-se para sempre em “Dr. Ricardo” desde que se soube do diploma.

Ricardo Sequeira, terceiro filho de um conceituado advogado da região, frequentou a Faculdade de Economia, onde se licenciou discretamente em Gestão de Empresas. Começou a carreira profissional na maior indústria transformadora do distrito, onde ao fim de 12 anos chegou a Director dos Serviços Administrativos.
Era uma pessoa de inabalável honestidade, princípio herdado do pai. Esta forte herança paterna acabaria também por confinar o Ricardo a uma carreira discreta: o demasiadamente rigoroso sentido de dever e de respeito pelo status quo que lhe foi transmitido transformou-o numa pessoa inibida. Talvez um outro tipo de vivência na mais tenra idade tivesse permitido uma maior projecção à carreira do Ricardo – pelo menos na empresa onde trabalhou, em que era seguramente o quadro de maior capacidade.

Teve uma vida familiar autónoma de acordo com aquilo que dele era esperado, pelo menos durante os anos em que conseguiu sustentar o casamento, baseado na amizade mais que em qualquer outro tipo de sentimento. Mesmo reconhecendo nele um marido dedicado e um fiel amigo, a mulher acabou por lhe levar parte da vida para outra cidade, argumentando que “não tenho mais vida para isto, lamento Ricardo, ambiciono mais que ter que comer e onde dormir”.
Por mais que “Joana, por favor não vás, eu preciso de ti”, a Joana foi mesmo e a filha única do casal, ainda sem idade para escolher, acompanhou a mãe na viagem. Em rigor, o Ricardo nunca a tal se oporia, por se julgar incapaz de proporcionar à filha uma vida com tanta qualidade quanto a mãe – e por o conformismo fazer parte da natureza dele. A partir desse dia, ele continuou a ser pai dela, mas ela nunca mais foi filha dele.

Tal como ele, os móveis da casa que agora só ele habitava e a roupa que usava diariamente foram envelhecendo e passando de moda, sem nunca haver lugar a qualquer renovação. Na fábrica, se até então o Dr. Sequeira pouco dava nas vistas, agora era quase um fantasma: entrava pontual e silenciosamente às oito e meia e fechava-se no gabinete, de onde raramente saía antes das sete da tarde.
No dia em que a multinacional adquiriu o controlo das acções da fábrica que o empregava, aquele Director de 50 anos tornou-se dispensável, já que “queremos uma empresa moderna, o Sequeira não serve, faz tudo certinho, mas não passa daquilo”.
Servir, até servia, mas ninguém percebeu. Aliás, alguém percebeu: ele mesmo. Mas nem isso o faria mudar.

Há dois meses, encomendaram novo mobiliário para o gabinete do Ricardo, que iria ser usado por um tipo que mal falava português e que “nem trinta anos deve ter, parece um puto”, dizia-se na fábrica. “Coitado do Dr. Sequeira, durante tantos anos foi ele quem andou com isto para a frente e agora mandam-no para casa”.

- Júlio, dá-me a minha Macieira gelada.
- Ó Sr. Dr., são oito e meia da manhã: não prefere que eu lhe tire um galão bem quentinho? Isto vai fazer-lhe mal…
- Júlio, deixa-te de sermões e dá-me a porcaria da Macieira. Conheces-me há muitos anos e já devias saber que de todos os males, este é o único que me faz sentir bem.

story - part 2

Sommer '85. Nach Buxtehude getrampt