06 março 2007

território desconhecido

- Não vás por aí!
- Por onde queres que vá, então?
- Segue-me, vem atrás de mim, que te parece?
- Não vejo nada, não te posso seguir.
- Sim, isto está escuro. Mas ao escolher este caminho já sabias que ia ser complicado, sem luz. Olha, fazemos assim, dou-te a mão e ajudo-te: deste modo, mesmo que não vejas o caminho, pelo menos não te perdes de mim.
- O que me faz confusão é como consegues saber onde eu estou, no meio desta escuridão toda. E como consegues saber por onde ir.
- Vou confessar-te duas coisas. A primeira é que é são as tuas palavras que me levam até ti, são elas que fazem com que saiba sempre onde estás.

- Então?
- Então o quê?
- Disseste que eram duas coisas, só confessaste uma.
- Pois foi.
- Sim, e então? Não vais dizer a outra?
- Não é fácil… mas está bem, eu digo: a segunda, é que eu também não sei por onde ir. A verdade é que também na escolha do caminho eu oriento-me pelas tuas palavras.
- Como?
- Sim, é isso.
- Queres explicar?
- Não sei se sei…
- Tenta!
- Está bem.

- Este caminho é novo para mim, nunca tinha vindo por aqui. Preciso que vás falando comigo para eu ter o meu instinto activo, para ter a certeza de que não te estou a levar para onde não queiras ir. Se tropeçares, avisa, não te esqueças; se eu tropeçar, ficas logo a saber, não te preocupes.
- Já te disse que tenho medo do escuro.
- Eu também. Mas eu tenho uma relação esquisita com o medo: enfrento, vou de frente para o que me assusta, convenço-me de que consigo vencer. Aliás, se me convenço disso, já não é medo, passa a ser uma coisa diferente, uma espécie de desafio.
- Gosto de desafios.
- Já reparaste que é a primeira vez que fazes uma afirmação, que não te limitas a fazer uma pergunta? Obrigado, finalmente facilitas-me a vida.
- Pára com isso, não era para agradecer. Nem faço de propósito para estar sempre com perguntas, é uma questão de feitio. E esta afirmação era fácil, acredita: tenho dificuldade em ter a certeza sobre seja o que for, faz parte de mim. Posso… posso fazer outra pergunta?
- Claro!
- Não consigo entender porque insistes em ajudar-me neste caminho…
- Respondo-te de forma muito simples: é a minha natureza. Faz parte de mim.

3 comentários:

Anónimo disse...

Vou deixar aqui o meu silêncio. Posso?

Anónimo disse...

Gosto desta tua "treta". Um texto caleidoscópico e que, por si só, é um desafio de leitura para quem desconhece o contexto. Enigmático... reli!

Anónimo disse...

Continuo a gostar tanto deste texto! Senti vontade de cá voltar
i.