27 março 2007

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Não costumo postar sobre as minhas actividades diárias, deixo esse hábito para outros.
Ou antes: para outras, uma vez que detecto que quem deposita esse resumo sob a forma de post são geralmente mulheres e também pela minha experiência, que indica que essa é uma necessidade feminina, já que as pessoas com quem vivi sempre fizeram questão de verbalizar esse resumo e, mais preocupante e irritante, me obrigavam a fazer o mesmo. Falharam sempre em entender a minha total ausência de necessidade e principalmente vontade de fazê-lo.

Dito isto e contradizendo isto, sinto hoje necessidade de descrever o meu final do dia de ontem.

Programei a minha saída do escritório cedo, por causa de uma reunião extra laboral. Era um cedo relativo, mas sair às 20h00 é cedo, para mim.
Claro está, comuniquei atempadamente a reunião; não obstante, ela criou a legítima expectativa de que ainda me poderia ver antes do final da noite.
A reunião prolongou-se até perto da uma da manhã, logrando-se a expectativa - para ambas as partes, não apenas para ela. "Paciência, fica para amanhã", teria sido a reacção natural: foi, pelo menos, a minha reacção.
Poderia até esperar uma reacção mais viva, "Chatice, fiquei desiludida, podias ter saído mais cedo da porcaria da reunião e vinhas ter comigo para nos podermos ver, foi falta de atenção tua", mas não, nada disso, "És uma merda, contigo nunca se pode contar, desiludes-me sempre, vai à merda, não te quero ver mais", seguido de um telefonema às 3 da manhã, "esquece esta relação", quando apenas umas horas antes a mensagem era "Amo-te, és a melhor pessoa que há, fazes-me sentir a mulher mais feliz do mundo".

É a frustração total por não conseguir deixar de gostar de alguém que não retribui o carinho e a dedicação, alguém que não consegue apreciar o que sou e o que dou. Ou antes, que o faz: tudo ou nada. É a irritação comigo mesmo por time and again cair na mesma tentação, ser mal tratado, afastado, preterido e depois, ao menor chamamento, estar de volta, que nem cão adestrado. É a frustrante sensação de saber conscientemente que gosto de alguém que carece de equilíbrio e que não tenho a capacidade para a equilibrar, queria tanto ser capaz... É a virtude do querer e gostar de ajudar transformada em problema. Grave.
Procurei incessantemente alguém de quem pudesse gostar mais, alguém que me pudesse fazer esquecer. Encontrei. Não fui retribuído. Porque mesmo quando tudo nos aponta naquele caminho, mesmo quando se sente mais do que a imaginação alguma ver permitiu, "nunca se sabe"... pois não?

Quando será que acerto?

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