29 maio 2007

you say potato...

Dizem sobre ingleses e americanos que são dois povos separados por uma língua comum. Esta afirmação, vista através de uma lupa que nem necessita ser assim tão potente, tem muito que se lhe diga – novamente em estrangeiro, there’s more to it than meets the eye.

Recentemente, tomei conhecimento de um caso em que duas pessoas, falando uma mesma língua, não se entendem. De facto, percebem as palavras um do outro, conseguem perceber as frases, mas não fazem ideia sobre o conteúdo mais profundo, as razões por detrás das palavras do outro: aquilo que ouvem simplesmente não faz sentido, é até incoerente, ouvido daquele modo.

Para tentar entender melhor o discurso, pediram ajuda a um tradutor-intérprete, amador, que tratou de traduzir o que cada um dizia, utilizando a linguagem que, na perspectiva dele, do técnico, fosse mais perceptível para o outro. O intérprete desempenhou o seu papel do melhor modo que sabia, agindo ora como tradutor, traduzindo de modo literal algumas das expressões utilizadas, ora como intérprete, indo ao ponto de tirar ilações do discurso, confirmando essas conclusões junto do emissor, de modo a garantir a exactidão do resultado do trabalho.
Finda a tarefa, o tal amador retirou-se. Partiu, no entanto, com a convicção de que o trabalho efectuado (caracteristicamente pro bono, embora seja absolutamente irrelevante para o caso), pouca ou nenhuma utilidade tinha tido.
Ter-se-ia tratado de uma conversa de surdos? Talvez.

Subsistiu nele, por isso, uma ligeira sensação de frustração, que o fez meditar de modo mais prolongado sobre os discursos ouvidos, as eventuais razões por detrás deles, julgou tons de voz, expressões faciais, tudo o que tinha ao alcance para tentar encontrar a interpretação certa para toda a informação a que tinha tido acesso.
Muito mais do que uma conversa de surdos, parecia agora claro que tinha sido uma conversa de mudos, em que ambos sabiam que aquela conversa tinha que acontecer, mas nenhum dos dois tinha certezas sobre o que tinha para dizer.
Ou, a tê-las, teve medo de dizer alto (talvez até para si mesmo) o que, na verdade, pensava e sentia.

… I say potato…

2 comentários:

ThunderDrum disse...

...I say tomato...

V. disse...

...and i say you won a Thinkng Blogger Award (of course).

Espreita esta entrada.

:)