30 abril 2007

quem és?

Quem és tu, tu lá atrás, lá ao fundo?
Quem és, tu que tiveste mais que aquilo que merecias, que tiraste o que não era teu, que roubaste o que nem meu era?
Que mais queres, agora, tanto tempo depois? Que mais tenho que possas querer?
Quem foste?

Quem és tu, sim, tu, aí ao meu lado, atrás de mim, a fugir de mim, a correr para mim?
Quem és tu, que não me deixas ir nem ficar, que não me permites seguir, que me impedes de ser, que consegues controlar quem sou e o que faço?
Quem és, que tiraste tudo o que eu tinha e mais?
Quem és, que ainda fazes de mim o que queres?
Quem julgas que és? Que direito tinhas?
Que direito tens?

Quem és tu, aí atrás de mim, que fizeste de mim o que quiseste, que tiveste tudo o que eu te dei, tudo o que eu tinha para te dar?
Quem és, para levar de mim o melhor que tinha sem dar nada em troca?
Porque não me quiseste?

Quem és, tu que passaste por mim, para julgares poder ter, se sabes que não quero dar?
Quem és, para pensares ter o direito ao que não é teu – é meu, para eu dar a quem quiser?
Quem és, porque falas assim comigo?

Quem és tu, que estás para aí, que me deixas a pensar?
Quem és tu, que nem sabes que estou aqui, que me fazes ter saudades, que fazes inveja, à distância?
Quem és? Quem podes ser?

E tu, aí à frente, mesmo à minha frente, quem és tu?
Sim, tu, tu mesma, estás a ouvir-me, tu, que me fazes pensar?
Sim, tu, que quase me fazes quebrar promessas, questionar valores, tu, que me deixas de cabeça à roda?
Quem és, que queres e não tens, a quem quero e não posso?
Que queres de mim?

Quem és?

coragem

Não tenho medo de nada.
Comecei em pequeno, quando ouvia a célebre “um homem não chora”. Ao longo da vida, fui sendo habituado a olhar o perigo olhos nos olhos, desdenhando o medo que pudesse surgir face a esse perigo. Não sei quando, mas sei que rapidamente consegui enfrentar tudo o que eram desafios físicos, confrontos em que a desvantagem física era evidente (quer em dimensão, quer em quantidade), característica que trouxe benefícios certos. Mas que não serviu para evitar alguns dissabores, também.
Mais tarde, ganhei a capacidade para enfrentar outro tipo de desafios, aqueles que menos relação tinham com aspectos físicos, eram medos de outra natureza. Continuavam a ser confrontos de poder, é certo – o poder real contra o da razão, contra o do intelecto, que comecei a fazer questão de vencer. Confrontos que aceitei sempre e que procurei muita vez. Confrontos desnecessários, na maioria dos casos. Porque, teimosamente, dizia preferir morrer de pé a viver de joelhos: e tinha sempre que o demonstrar.
O passar dos anos e a sabedoria (?) que deles advém amoleceu alguns destes ímpetos. Ou antes, terá dado a capacidade para permitir melhor distinguir os desafios essenciais dos outros, consigo agora voltar costas a tudo o que não me traz (ou a outrem) qualquer benefício. Já não desafio pelo prazer de desafiar, pelo simples prazer de demonstrar que estou mais certo: nem sempre vale a pena.
Vencidos todos os obstáculos? Aparentemente. Mas há um que subsiste.
É talvez o mais complexo de definir – e, por isso, de vencer. É um confronto invisível, um inimigo que não dá a cara, que nem sequer se chega a explicar, não tem forma nem razão. Não tem moral.
Não tenho medo de nada?

chains

I don’t want any trouble, I don’t want to make any waves.
I don’t want any conscience and I don’t wanna be brave.
I’ve kept my distance my feelings have never been shown.
I know that I’ve been walking fences, denied what I have known.

I put my conscience under a stone, the stone under the ground.
Walked from where I had left it, I hoped it couldn’t be found.
My conscience persisted it’s a haunted seed I have sown.
Calls me out from the distance and it just won’t leave me alone.




Chains, Chicago XVI

28 abril 2007

derreter plástico



Em poucos minutos, uma encomenda desfaz um pequeno monte que demorou meses a construir, com o usufruto ainda a muitas semanas de distância.

26 abril 2007

sozinho em casa



Uma insónia e um estado de espírito fazem acreditar que tudo é possível.
Às 5 da manhã.

náusea

Este nó
este nó na garganta
este nó que aperta
este nó que me encerra

Este aperto
este aperto no peito
este aperto estreito
este aperto que me desterra

Este grito que é mudo
este grito abafado
na garganta e no peito
este grito apertado




Contribuição anónima devidamente identificada.

25 abril 2007

story - part 7

Was it just me?




Last Summer. And then came the same old fears.

24 abril 2007

território proibido

- Já viste até onde me trouxeste?
- Estou a ver. Mas sabes, como te tinha dito, eu guio-me pelas tuas palavras, se viemos até aqui foi por ti. Não te estou a culpar, mas limitei-me a seguir as tuas indicações.
- Pois. Talvez tenhas razão. Se calhar era até aqui que eu queria mesmo vir.

- Agora já não está escuro, agora vejo quase tudo. Mas continuo a ter medo, talvez até mais medo que antes, na escuridão.
- Eu sei. E eu também estou com medo. No escuro é fácil, encontrar a luz é o tal desafio; quando chegamos a um local que reconhecemos e sabemos ser perigoso, então sim, tenho medo. Porque sei dos perigos.

- E agora?
- Voltas ao mesmo? Vais continuar à espera que seja eu a levar-te, a conduzir-te e a puxar-te para diante?
- Sim. Já me conheces, sabes que eu sou assim.
- Pois… mas não, desculpa, não te posso guiar mais. Agora, que já sabemos onde o caminho vai dar, não quero ser eu o responsável por passares esta fronteira: se a quiseres passar, terás que ser tu a dar o passo, a ir em frente e mostrar que queres ir por aí, que é esse o caminho que escolheste. Acabei de te dizer que fiquei com medo, não foi? Uma das coisas de que mais medo tenho é de sentir a responsabilidade por te levar por um caminho e depois não te saber trazer de volta. De fazer com que te percas. Não, não posso nem devo. Não quero.
- Caramba. Numa situação destas, consegues saber sempre o que dizer. Eu aqui quase em pânico e tu pareces sempre encontrar as palavras certas. Parece que estás de fora, a ver-nos de longe, como se fosse um filme.
- Sim, talvez seja isso. Sabes, já vi este filme, isto é quase um remake, para mim: os personagens eram outros, a época diferente, o cenário também, mas a história quase que nem muda. O máximo que posso dizer-te foi como acabou esse outro filme, o final que teve.
- E qual foi?
- Fazes cada pergunta…
- Esta era fácil!
- Está bem: a história, depois daquele momento, correu mal, durante uns tempos. Eu interpreto essa parte do enredo como uma crise necessária à mudança, o protagonista tinha que partir para outra.
- Só isso…?
- Sim, só. Nunca vi o fim desse filme…

...

Dentro do contexto, oferece-se prémio monetário de valor simbólico a quem melhor definir a palavra almost.

almost paradise

Sempre quis colocar uma placa à porta de casa.
“Vivenda Meireles”, ou “Casal do Amor” não foram propriamente as que vieram à ideia – por não me chamar Meireles e por as achar uma verdadeira piroseira, mas a vontade manteve-se e apenas não concretizei essa intenção por, na única altura em que o pude fazer, não ter havido unanimidade.
Por mais que a vida corra do modo menos esperado, por mais que os planos me saiam sempre furados, acabei por ter uma segunda oportunidade para mandar gravar a tal placa e colocá-la orgulhosamente na porta – preta, a porta – sem que agora tenha necessidade de submeter a intenção a qualquer sufrágio.
Talvez o não ter colocado a placa na porta e o não ter usado o “dizer” tenha sido mais do que uma coincidência, deixando-me agora a liberdade de o utilizar nesta segunda oportunidade sem que o "dizer" esteja gasto, já visto – pelo menos por mim. Talvez agora, que a casa é mesmo e só minha e eu posso pintar paredes de preto e laranja, dormir no sofá, não despejar cinzeiros, deixar o tampo da sanita levantado e fazer como eu muito bem entender, talvez agora a placa possa mesmo ser colocada.

19 abril 2007

neunundneunzig luftballons

É a contagem até ao momento.

18 abril 2007

to whom it may concern

Temos bimbo.

17 abril 2007

o que é um blog

Em comentário a esta publicação de há uma semanas, fui desafiado para um debate.
Eis que me aperece, finalmente e após insistência minha, a tese para debate.
Publicação integral e não editada.



Gosto de visitar blogs! Relativamente a alguns poder-se-á dizer que sou fiel, visitando-os com assiduidade, esperando que o post seguinte me agrade tanto, ou mais, que o anterior. Diversos são os motivos porque o faço, consoante as características dos mesmos. Há no entanto um denominador comum: o gosto de compartilhar com os autores, por vezes com uma cumplicidade que me faz encarar esses blogs reflexos de mim, pelas sensações que me despertam. Podem ser fotos, ou qualquer outro tipo de arte, que me fascinem; músicas que me façam vibrar; textos que me envolvam, pelo forma e pelo conteúdo (geralmente admiração pela forma e identificação com o conteúdo).
Pegando agora nas tuas palavras: acho que o não entender o assunto, na primeira leitura, pode não ser negativo mas um motivo para ficar pregada ao ecrã. Textos enigmáticos e bem escritos fazem-me repetir a leitura, é um facto, mas como um desafio. Tentar entender o que está subjacente e enquadrar com a personalidade do autor, pelo que me foi dando a conhecer em textos anteriores pode ser bastante estimulante.
Um texto bem escrito é sempre uma mais valia, sem dúvida, mas o mais rico na sintaxe não será obrigatoriamente o mais precioso.
O terceiro parágrafo do teu texto surpreendeu-me, se bem que entendi ser maior o desejo de teres as capacidades que a origina do que propriamente a popularidade.
Revela-me, no entanto, uma outra forma de estares neste espaço. Até agora sempre enquadrei o teu blog, se é que é possível fazê-lo, num género intimista. Não que tenha algo contra blogs populares, visito-os também, aqueles cujos conteúdos me agradam e não por pura contribuição para as estatísticas.
Acho que blogs interessantes, e/ou populares, não implicam necessariamente vidas interessantes e muito menos o inverso.

Gosto muito da forma como construíste o texto - penso que a frase final é fundamental para a apreensão da ideia principal.

(afinal nem sei se haverá matéria para debate, ou se apenas um comentário que obrigará a uma segunda leitura, e não por estar bem escrito )

i.

12 abril 2007

venha de lá

Há uns dias, um comentário anónimo sugeria um debate, desafio que aceitei.
Continuo a aguardar o início das hostilidades.

eu não

Esclarecidos?

11 abril 2007

parolos

Na maioria dos casos:
Interessa saber se somos governados por um bacharel, licenciado, mestre, ou professor?
Não.
Interessa saber que resultados obteve na escola?
Não.
Desde que governe bem.
Os graus académicos apenas conferem um nível teórico de competências a quem os detém. A vida profissional revela que conferem apenas o nível teórico e académico das competências: é na prática que se revelam as competências efectivas, que têm muito de afectivo, de humano, de senso, sensibilidade e saber de experiência feito. Que não sei de onde vêm, mas não são as nossas escolas que os ministram e incutem nos alunos – independentemente do grau.
Que é irrelevante.
Quem procura julgar-se e quem julga de acordo com graus académicos não passa de um bimbo de vistas curtas.

No caso presente:
Interessa saber se somos governados por um bacharel, licenciado, mestre, ou professor?
Sim.
Interessa saber que resultados obteve na escola?
Sim.
Mesmo que governe bem.
Porque se alguém obteve um grau de forma imerecida e desleal, por mais irrelevante que o grau possa ser, há uma definição de carácter que nos interessa conhecer, há um princípio moral que foi corrompido, nem que tenha sido uma vez apenas.
Há um bimbo.
E essa matéria é de fundamental importância para que possamos aferir das competências, as tais humanas e de senso.

No caso presente:
Um bacharelato transformado em licenciatura após 4 cadeiras (sendo que a 5ª é inglês técnico), um diploma emitido a um domingo, um esquecimento por parte da escola em preencher uma lista obrigatória do Ministério da Educação e CVs inconsistentes publicados pela AR: tudo isso pode parecer suspeito.
Mas será que quem investiga estas coisas e que (aparentemente) tem acesso a documentos da dita universidade não se lembrou de procurar esclarecer de outro modo? Que tal pedir aos colegas de turma que testemunhem a presença nas aulas do senhor em questão? Não dá? Foi só a exame, nunca frequentou as aulas? Ok, tudo bem: vejam então os exames, que certamente estão arquivados também na escola, será inequívoco.

Esclareçam de vez e deixem-nos em paz com o assunto.E deixem-nos tirar as nossas conclusões.

encher pneus

Por respeito a quem tem ainda paciência para vir até aqui, serve o presente para referir que não tem existido imaginação nem tempo que permitam criar o mais curto post. E para prometer notícias para breve.

05 abril 2007

cabeça de abóbora




A propósito de uma frase simpática que me dirigiram, lembrei-me desta.

04 abril 2007

story - part 6

No-one said it would be this hard



o homem que mordeu o cão

Concordo que todos os cães devem ser conduzidos com trela, por questões de cautela. Porém, entendo que a utilização do açaime deve ficar ao critério do dono do cão, responsável por todos actos deste – civil e criminalmente.

O legislador obriga o meu cão a utilizar açaime. O legislador, cego, não faz a mais pálida ideia sobre o meu cão: sabe apenas que se enquadra nas raças de grande dimensão (mesmo tendo uma dimensão média). Não sabe, por exemplo, que em toda a vida e no contacto com dezenas (talvez centenas) de pessoas, nunca teve sequer um ameaço de atitude que indiciasse a mais breve hostilidade; não sabe, principalmente, que o comportamento dos animais depende mais da educação que têm que da dimensão corporal ou da raça do dito.
O legislador, cego, não viu que é ao dono que devem ser impostas restrições sérias.

Como no caso deste, a quem nem a trela colocada pelo agente da autoridade impediu de morder: estes sim, devem ser vacinados, açaimados, talvez até enjaulados.


DN de ontem:

Dono de cão
perigoso morde
polícia na Amadora



03 abril 2007

tempo

Faz um mês que pensei para mim mesmo: "tenho a vida toda à minha frente, não há pressa".
Hoje posso dizer que "tenho à minha frente a vida toda menos um mês".

desta outra água

Os mares foram antes navegados, navegação por instrumentos, a falta de visibilidade impede outro modo de orientação. Tenta-se construir uma imagem da rota (que se julga conhecer… estúpidos), visualiza-se um caminho e um destino, julga-se ter à vista a boa esperança quando afinal só mal se chegou às tormentas. Recebe-se um tiro perdido mas certeiro no barco de 4 canos: água a entrar com fartura, corre-se o risco de vir a sair salgada. Sem se saber se abandonar navio, se largar ferro, se máquinas a todo o vapor, vê-se à deriva numa calmaria que não leva a lado algum, acha-se levado numa maré de azar, encontra-se náufrago num mar morto, acaba-se perdido e sozinho numa costa estranha.

absurdo

Procurando definições:

fantasma
do Lat. phantasma < Gr. phántasma, visão
s. m.: imagem ilusória; espectro; avantesma; avejão; visão aterradora; sombra apavorante; alma do outro mundo; quimera; fantasia.

Humm… ora vejamos…
Imagem ilusória pode ser, avantesma não me ajuda em nada: avejão é palavra que desconheço…

avejão
s. m.: ave grande; fig. abantesma; fantasma; homem agigantado e feio

Bem, ave grande… águia? Não, definitivamente, muito obrigado; homem agigantado? Tão pouco. Sombra apavorante não soa bem, alma do outro mundo, para já não.
Prossigamos…

fantasia
do Lat. phantasia < Gr. phantasia, imagem
s. f.: imaginação; em que há imaginação; obra de imaginação; devaneio, sonho, ficção; capricho, extravagância; adorno, arrebique; variação musical sobre um tema musical, ao arbítrio do artista; paráfrase de uma ária de ópera; quadro em que o pintor se afastou das regras estabelecidas, para seguir a sua imaginação; vestimenta para disfarce faceto ou burlesco no Carnaval ou em outras festas.

A parte da imaginação parece quase adequada; ainda assim, quero procurar mais, talvez haja algo mais apropriado…

quimera
do Lat. chimaera < Gr. chímaira
s. f.: monstro fabuloso com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão; fantasia; utopia; ilusão; sonho; absurdo.

Monstro com cabeça de leão assenta bem melhor; corpo de cabra dispensável; dragão no final do tubo digestivo – onde mais poderia? Utopia, ilusão, sonho, parecem-me bem. Acho que sim, esta serve: absurdo.
Tentando construir a partir das definições mais ajustadas.

Obra de imaginação, constitui um sonho, corre o risco de se transformar em capricho, embora não passando de utopia, ilusão; redunda em absurdo.

Estará bem assim?

02 abril 2007

dieta

Lembro-me de ouvir dizer (não sei a quem) que o que não mata, engorda; ou ainda que tudo o que é bom, ou é pecado, ou faz mal à saúde, ou engorda. Afirmações desta natureza têm uma origem sábia, daquela sabedoria popular vinda da observação mais atenta de um qualquer anónimo, que conseguiu colocar em palavras aquilo que está à vista de todos e que ainda ninguém conseguiu ver.
Alheio a questões gastronómicas, dou por mim a meditar sobre estas frases e a pensar na sabedoria que lhes está na origem, tentando encaixar numa delas o meu caso e querendo retirar daí um qualquer benefício, em jeito de auto-aconselhamento. Sem sucesso na tentativa de encaixe, já que isto nunca me fará mais gordo, não acredito no conceito subjacente ao pecado, nem na forma como são apregoadas as consequências dele, e, muito menos, o meu caso alguma vez constituirá problema de saúde. Jejum tão pouco me parece solução, esse sim certamente com resultados negativos para o meu metabolismo, pelos sintomas gástrico causados.
Mais do que o regime alimentar, são os excessos que provocam malefícios e causam indisposição: recomendo a mim mesmo uma ingestão calma e ritmada, de modo a garantir uma boa deglutição e um correcto processo digestivo.

Uso moderado.
Mesmo que restos não sejam a alimentação mais correcta.