quem és?
Quem és, tu que tiveste mais que aquilo que merecias, que tiraste o que não era teu, que roubaste o que nem meu era?
Que mais queres, agora, tanto tempo depois? Que mais tenho que possas querer?
Quem foste?
Quem és tu, sim, tu, aí ao meu lado, atrás de mim, a fugir de mim, a correr para mim?
Quem és tu, que não me deixas ir nem ficar, que não me permites seguir, que me impedes de ser, que consegues controlar quem sou e o que faço?
Quem és, que tiraste tudo o que eu tinha e mais?
Quem és, que ainda fazes de mim o que queres?
Quem julgas que és? Que direito tinhas?
Que direito tens?
Quem és tu, aí atrás de mim, que fizeste de mim o que quiseste, que tiveste tudo o que eu te dei, tudo o que eu tinha para te dar?
Quem és, para levar de mim o melhor que tinha sem dar nada em troca?
Porque não me quiseste?
Quem és, tu que passaste por mim, para julgares poder ter, se sabes que não quero dar?
Quem és, para pensares ter o direito ao que não é teu – é meu, para eu dar a quem quiser?
Quem és, porque falas assim comigo?
Quem és tu, que estás para aí, que me deixas a pensar?
Quem és tu, que nem sabes que estou aqui, que me fazes ter saudades, que fazes inveja, à distância?
Quem és? Quem podes ser?
E tu, aí à frente, mesmo à minha frente, quem és tu?
Sim, tu, tu mesma, estás a ouvir-me, tu, que me fazes pensar?
Sim, tu, que quase me fazes quebrar promessas, questionar valores, tu, que me deixas de cabeça à roda?
Quem és, que queres e não tens, a quem quero e não posso?
Que queres de mim?
Quem és?