29 dezembro 2006

finalmente


Agora sim, posso descansar.

2006


Trabalho, tribunal, deixar de fumar, trabalho, trabalho, namorada, trabalho, namorada, discussões, trabalho, sentença judicial, orçamento obras, trabalho, discussões, namorada, fim, trabalho, bons conselhos, trabalho, trabalho, calma, trabalho, recurso judicial, trabalho, calor, conversas, blog, amigos, mais calor, mais trabalho, revisão salarial, frangos, reencontro, sorrisos, mundial, trabalho, aniversário, Guiness, tabaco, trabalho, nunca se sabe, férias, sushi, trabalho, 30 de Agosto, esperança, cavalos, viagens, trabalho, tempo, obras, reencontro, discussões, calma, trabalho, ajuda, trabalho, obras, trabalho, mais ajuda, trabalho, crianças, quase calma, Natal, talvez, trabalho.



2007




28 dezembro 2006

sozinho em casa







Uma insónia proveitosa.

27 dezembro 2006

leve

“Sim ou não”, gosto das coisas bem claras e esclarecidas, “talvez” incomoda-me, fico sem saber quando nem como, prefiro um não, sempre quebra a ansiedade.
Porquê? Para quê?
Não sei, não sei mesmo.

Sim, porquê, pergunto-me também: para quê, com que vantagem?
Nenhuma!

Um “sim” é quase sempre mentira a prazo, um “não” pode provocar também arrependimento num momento futuro.
Talvez tenhas razão, assim é melhor, seguramente mais honesto, provavelmente mais seguro.
Sem ansiedade – para quê o peso ansiedade?
Sim, tens razão, de facto: obrigado pelo sms. =)

E agora, tenho outro problema para resolver…

14 dezembro 2006

Wahlheimat

Fehlfahrten ohne Ende
Hineinfühlen in Wohnung
Xizatos, camarões e buchas
Nachbarschaftsziege
Hormonwirbel auslösende Shiatsu-Massagen
Warten auf rattenscharfen Mann, voller Abwesenheit
Platzend vor Neugierde
Sonnenschein pur
Gleißendes Licht, das meine Augen blendet
Fahrten ans Meer, Freiheit und Leichtigkeit
Ex-Freund ohne Plan und Kontaktwunsch
Gaskamine ohne Zündung?
Sprachliche Tücken, wahre Stolpersteine
Neue Impulse für meine Seele
Deutsche Freunde, emotionale Stabilität
Festa de vinho quente
Erwünschter Alltag
Telefonische Sprachlosigkeit
Softwareübersetzung, gewohnter Gang
Schlüpfrige Gespräche
Ignoriertes Weihnachten
Andersartigkeit
Viel Appetit
Interessante Lebensgeschichten
Ultimative Suche nach Sofa

Das alles, und noch viel mehr...

von der Schwäbin

13 dezembro 2006

1 mês

A propósito de uma recente recomendação de leitura, vim reler este meu espaço, quando percebi que passa hoje exactamente um mês sobre a última publicação.
Ora um mês, num ambiente destes, parece demasiado tempo: há que acrescentar, dar sequência, completar aquilo que constitui uma espécie de história – invertendo a tradição dos antigos diários, esses que tinham sete chaves para um só cadeado, mantidos totalmente em segredo no fundo de uma das gavetas da cómoda do quarto.

Actualizando o diário…

Tropecei no passado e encontrei o presente. Conhecendo bem o passado deste presente, – que é também meu – não estou a conseguir projectar nele futuro com algum prazo. Para já, claro.
Mas estou comfortable. E algo numb, também. Remember? Sem querer encontrar qualquer bode expiatório que não o que vive dentro de mim, digo que a indústria farmacêutica faz destas.

Perdura na memória um outro passado em quem tropecei, aquele em quem quis e consegui projectar futuros e… a quem dei tempo. Não o suficiente, aparentemente.
Algum seria?

14 novembro 2006

obrigado Rui

Devia ter os meus 13/14 anos quando te conheci.
Comecei por te acompanhar à Cantareira, um dos trajectos mais populares da época. Estive uns seis anos sem te encontrar, até que te voltei a ver na costa Alentejana, em frente ao pessegueiro, mas só iria ficar definitivamente teu amigo num dia sem estrelas no céu.

Nem que passe todo o tempo do mundo, sempre que me dizes que ela saiu para a rua consegues comover-me e fazer-me chorar. Como fizeste na sexta-feira passada, quando te vimos de novo e me fizeste olhar melhor para quem estava a meu lado... e perceber que continua a ser mais o que nos une que aquilo que nos separa.

03 novembro 2006

idem - versão axterix

Toi, par tes mille et un attraits
Je ne sais jamais qui tu es
Tu changes si souvent de visage et d'aspect
Toi quelque soit ton âge et ton nom
Tu es un ange ou le démon
Quand pour moi tu prends tour à tour
Tous les visages de l'amour

Toi, si Dieu ne t'avait modelé
Il m'aurait fallu te créer
Pour donner à ma vie sa raison d'exister
Toi qui est ma joie et mon tourment
Tantôt femme et tantôt enfant
Tu offres à mon cœur chaque jour
Tous les visages de l'amour

Moi, je suis le feu qui grandit ou qui meure
Je suis le vent qui rugit ou qui pleure
Je suis la force ou la faiblesse
Moi, je pourrais défier le ciel et l'enfer
Je pourrais dompter la terre et la mer
Et réinventer la jeunesse

Toi, viens fais moi ce que tu veux
Un homme heureux ou malheureux
Un mot de toi je suis poussière ou je suis Dieu
Toi, sois mon espoir, sois mon destin
J'ai si peur de mes lendemains
Montre à mon âme sans secours
Tous les visages de l'amour

Toi ! tous les visages de l'amour

she

She
May be the face I can't forget
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day.

She
May be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell

She who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past
That I’ll remember till the day I die

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I’ll care for through the rough and ready years
Me I’ll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is

She, she, she



she (tous les visages de l'amour)
por Charles Aznavour e Herbert Kretzmer
também por Elvis Costello

27 outubro 2006

batota

Quando a inspiração falha e o tempo escasseia, nada vem à ideia que mereça ser lido. Na verdade, até que existem ideias - as que vierem - mas tem faltado engenho para as colocar neste papel virtual, para as tornar perceptíveis e interessantes.
Na memória e no papel (no de rascunho, entenda-se), há já semanas, estão histórias por corrigir que explicam e dão sequência a alguns escritos anteriores; na cabeça e no corpo, episódios reais e imaginários, ocorridos ou programados, que prometem tema.
Eu só prometo tentar. Por mim, claro está, que me faz bem.

24 outubro 2006

espreitar

Visito quase diariamente um blog da autoria do Mostrengo Adamastor, um alias de quem é, aliás, um dos maiores responsáveis pela existência destas linhas publicadas. Como o meu diariamente é só um quase, apenas hoje vi a publicação de ontem, que julgo merecer uma visita.
Outro Monstro com bom gosto.

23 outubro 2006

de cair de costas

18 outubro 2006

funciona

Combinámos não combinar nada.

chiu!

Comecei nem sei quando, mas nunca mais parei. Lembro-me de umas aulas de geometria descritiva, distantes no tempo, num já longínquo 12º, em que o professor se limitava a pedir a resolução de problemas e eu, de pé a desenhar, não me calava, nem sei como cheguei ao 19.
Conto anedotas, histórias de todas as índoles, abranjo todos os temas, falo de tudo e de nada, sem parar – à exaustão, dizem alguns, por repetitivo. Senil, talvez.
Mais recentemente, percebi que chego até a falar nas ocasiões mais inusitadas, naquelas em que falar é o que mais ninguém faz.

Falo porque a cabeça não pára, porque tenho que colocar cá para fora o que flúi a velocidade que não controlo. Falo por necessidade, porque é importante para mim ser ouvido, ter atenção. Falo pelo prazer de falar, de compartilhar conhecimento e experiências. Falo pela necessidade de transmitir a quem importa o que estou a sentir em cada instante. Falo, simplesmente. Demasiado.

04 outubro 2006

frangos III: Conversas Imaginárias – mas não muito

Já escrevi artigos em jornais, participei em blogs, fui a programas na televisão, fartei-me de viajar e fazer férias.
Trabalhei em muitas empresas, o meu excelente trabalho foi sempre reconhecido por todos. E nunca ninguém percebeu que passo a vida a falar no messenger
Deixei amigos em todo o lado por onde passei e ainda hoje jantamos juntos muitas vezes, mandam-me sms a desejar bom aniversário e oferecem-me prendas. Tenho muito bom gosto a vestir, uso fatos e sapatos de cores que ninguém mais usa.
Só almoço em locais decentes, não me misturo com qualquer um.
Sou muito ambicioso, passo por cima de tudo e de todos para chegar onde quero e nem dou por isso.
E, no fim de contas, continuo a ser o único gajo inteligente da minha aldeia.

03 outubro 2006

sou





28 setembro 2006

schwabentalk


- Sim, em Portugal há imensos milagres.
- Há?
- Claro.
- Por exemplo?
- Eu!
- Ah, pois, és mesmo um milagre.
- Eu sou um milagre.
- Sentiste à nascença que eras um milagre?
- Ser como sou, vindo do meio de onde sou originário, é um verdadeiro milagre.
- Mas porquê?
- Caso tivesse seguido um percurso normal, teria sido um enfadonho engenheiro civil, daqueles que odeiam obras, teria talvez casado com a filha de um médico ou com uma hipotética Susana, filha de um coronel de artilharia. Teria trabalhado sempre na mesma empresa, sido cumpridor das normas e das regras sociais, sem chocar… Hoje em dia, conduziria um monovolume cinza metalizado, onde faria deslocar os meus filhos: Paulo, o mais velho fanático por computadores, um verdadeiro nerd; a Mariana, a do meio, infelizmente igualzinha à mãe, com verniz nas unhas aos 12 anos e sem outro assunto que não moda; o mais novo, o Alexandre, que me mói o juízo e a carteira com a porcaria das aulas de equitação, por influência da parva da mãe, que acha que é in montar aqueles animais perigosos e de odor desagradável.
- Porque é que escolheste esses nomes?
- Não fui eu quem os escolheu – ou achas que teria direito a voto, lá em casa, numa casa destas? Claro que estou a imaginar e a divagar. Mas vou usar esta nossa conversa e publicá-la.
- Ainda bem que és diferente, porque se tivesses uma vida assim, não estarias aqui na net a falar com estrangeiras, nem poderias embebedar-te com alemãs ou com suíças com um cão.
- Vou aproveitar também este teu comentário.

22 setembro 2006

22

22 de Agosto 1987
Amoreiras, Lisboa. Faca de cozinha mal utilizada resulta em secção parcial do quinto dedo da mão direita. Quatro cirurgias, quatro porcento de invalidez permanente e dez anos para habituação à pequena incapacidade.
22 de Julho de 1992
Ramalhão, Sintra. Yahama 600 em excesso de velocidade, impossível evitar Ford Transit em manobra perigosa. Quinze metros pelo ar, duas semanas para que as dores deixassem de ser sentidas e as nódoas negras desaparecessem por completo. Quatro anos em tribunal para ser indemnizado pelos danos no veículo de duas rodas.
22 de Setembro de 2000
Olivais, Lisboa. Telefones desligados do outro lado, a primeira e a mais marcante mentira. Anos a tentar esquecer, sem conseguir.
22 de Setembro de 2006
Talvez seja melhor ficar em casa.

21 setembro 2006

traços


Tenho a tendência para admirar (e até invejar) quem tem capacidades que não domino.
Olho com uma inveja saudável quem consegue fazer de um carro aquilo que não consigo, quem faz aquela curva sem deixar escorregar demasiado e consegue esperar pelo momento certo para acelerar, sem perder tempo - na gíria, quem consegue andar para a frente. Eu ando muito mais para o lado.
Com o mesmo sentimento, oiço uma guitarra a emitir melodias, sons que gostava de ser eu a produzir. Mas não consigo. Felizmente para peões e demais utilizadores da via pública, conduzo um pouco melhor do que toco guitarra.
Pegar numa caneta, lápis, pincel, ou outro qualquer instrumento que permita passar imagens para a tela é arte que tão pouco domino. Sem inveja neste caso, não posso deixar de admirar a forma como alguém consegue captar expressões e emoções deste modo.
Não sei de quem é a cara. O traço é da Becas. Respect.

20 setembro 2006

frangos II

You can fool all the people some of the time, and some of the people all the time, but you cannot fool all the people all the time.

Abraham Lincoln, 1809-1865

19 setembro 2006

assim

Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado:
- Falhámos a vida, menino!
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falha-se sempre na realidade aquella vida que se planeou com a imaginacão. Diz-se: «vou ser assim, porque a belleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquez. Ás vezes melhor, mas sempre differente.

Eça de Queirós, Os Maias, 1888

15 setembro 2006

outros vícios

Ouvi mais do que uma vez de alguém que muito prezo que não há ex-fumadores, mas fumadores que não fumam há… seja quanto tempo for. De facto, consegui deixar de fumar durante alguns meses, apenas para cair de novo na tentação de pegar num cigarro, acendê-lo e apreciá-lo.
Presentemente, estou de novo num ritmo quase desenfreado, consigo com regularidade ultrapassar a marca dos 20 cigarros diários – registo do qual não me orgulho, mas relativamente ao qual, sinceramente, pouco tenho feito. Porque os vícios (alguns, pelo menos) dão-nos prazer e, talvez como qualquer viciado, consigo dizer sempre para comigo “um destes dias…”.
Enfim, outros vícios.

14 setembro 2006

pistas

08 setembro 2006

I - nunca se sabe... (for now)

Parei à tua porta, destranquei o carro.
Entraste com um “Olá” quase casual – como se nos tivéssemos visto na véspera – dando-me um só beijo na face. Respondi ao teu “Olá” com um “Olá” surdo, mais tímido e envergonhado que o teu, sem te conseguir olhar, com a estrada como desculpa para essa minha incapacidade momentânea.

A condução do carro era bem mais fácil que a condução da conversa: não sou mau a segurar o volante, foste muito melhor a manusear as palavras.
Lentamente, fui perdendo o medo provocado pela presença da beleza intimidadora, exactamente a mesma de que me lembrava e que conseguia agora ver mesmo sem olhar, e acelerei, acho que até aos 200. Soltando cada vez mais palavras, sorrindo, tal era o prazer que a velocidade dava.

“Importas-te de fazer uns 30 km?”, perguntei.
Percebi que os meus receios eram infundados e que as minhas faculdades estavam intactas, conseguia finalmente acelerar também no discurso. Os 30 km passaram despercebidos, no meio das palavras com que fomos preenchendo os espaços vazios abertos pelo tempo: afinal, tinham sido anos desde o último contacto, desde aqueles breves momentos que deixaram marcas, marcas de que nenhum de nós tinha consciência, mas que estavam lá. Fortes e presentes e que só mesmo o acaso permitiu recuperar.

Concordámos no menu e no vinho, ainda bem que temos gostos semelhantes. Gostas das mãos, eu também, gosto dos pés, tu mais ou menos, do que mais gostei foi dos olhos e de como eles iluminavam, a pequena vela em cima da mesa apagou-se e nem demos por isso. Das faíscas. Que me pareciam sinais,
(mas nunca se sabe, pois não?)
indicativos de que era mesmo a tal fogueira e não apenas uma centelha que ardia por detrás deles.
“Que é que foi?” era a tua linha defensiva contra um olhar que sentias intenso, mas que era apenas reflexo da luz que vinha dos teus olhos. Que vinha, tenho a certeza. Que não parava, e eu só respondia mentindo “Não é nada…”.

De novo ao volante, acedeste ao meu convite para uma bebida, que a noite era uma criança e amanhã era sábado. Pareceu-me ser um sinal
(mas nunca se sabe, pois não?)
de que a memória das marcas antigas tinha sido reavivada por toda aquela luz vinda das faíscas.
Mostrei-te lugares de que gosto, disseste que eram lugares comuns a outras visitas guiadas, mas não eram. Pelo menos vistos àquela luz. Que não parava, e eu continuava a mentir a cada defesa tua: “Não é nada…”.

“Isto está a complicar-se”, não me lembro qual de nós disse. “Louis…”
Sim, podia. Ou, pelo menos, e tal como alguém dizia há mais de meio século, imortalizando a frase, pareceu-me poder vir a ser. Mas nunca se sabe.
Pois não?

04 setembro 2006

frangos

Esbarro com todo o tipo de pessoas.
Sem ser selectivo, prezo-me por me dar bem com todos, mais com uns que com outros, naturalmente; mas tento não discriminar, seja por que motivo for. Raros serão os que não consigo suportar, já que a única característica que tipicamente não admito é a estupidez, que, ao contrário da ignorância e a ausência de cultura, é característica voluntária, opção pessoal.
Recentemente deparei-me com um caso totalmente novo, na minha experiência de já algumas décadas – cada vez mais décadas. De facto, e até determinado ponto, algumas das características demonstradas deveriam ser motivo de inveja para muitos e servir de exemplo terapêutico para outros tantos: a quantidade de auto-estima revelada permite demonstrar que existem egos indestrutíveis, que se auto alimentam, não necessitando sequer de estímulos externos para obter motivação.
Não terei eventualmente capacidade para o classificar, cai integralmente fora dos padrões a que me fui habituando. Na verdade, poderia remeter este conhecimento recente para o grupo dos restantes e raros estúpidos registados na minha agenda: esta classificação revelar-se-ia, porém, não incorrecta, mas insuficiente, tal o carácter único das características demonstradas.
Passará, claro está, a constar não da lista negra, mas da amarela, cor condicente com o sorriso que a lembrança de tal personagem origina. Passará igualmente a constituir uma adição ao repertório de anedotas com que brindo os convivas dos jantares mais animados, dentro do tema mais vasto da imbecilidade humana, revestida, neste caso, de uma espessa camada de presunção e vaidade: ninguém é absolutamente inútil.

23+7

Esmerei-me.
Talvez não tenha feito o meu melhor, ninguém nunca faz o melhor, conseguimos sempre fazer melhor.

Mas fiz com carinho, com amor e com muita emoção.
E intenção. E esperança.
Resultou?

10 agosto 2006

fui

Se tens na tua mão o poder para apaziguar esta mágoa,
se tens o que é preciso para sossegar este coração,
porque esperas, porque aguardas, porque me deixas?

Porquê permitir esta sensação de abandono, este desespero,
se podes com um gesto, uma palavra pôr fim ao desassossego,
a este já longo degredo a que me submeto - porque não me deixas?

Deixa-me ficar, diz-me para ficar, mostra-me que queres que fique,
Se não deixa-me ir, sem sentir que estou a fugir, assim não,
Não gosto de fingir que tudo está bem, não consigo, não posso!

09 agosto 2006

10 years after

Gosto da maneira como tu me sentes e eu te sinto

02 agosto 2006

vício

Saí do banho.
Enrolei a toalha à volta da cintura.
Acendi um cigarro e olhei-me ao espelho.
(gosto de me ver de toalha à cintura: a toalha esconde a barriga saliente e os ombros, largos, ficam mais evidenciados)
Fui para o quarto, deitei-me
(gosto das camas dos hotéis, maiores que a lá de casa, onde será que as compram?)
e estiquei o braço direito até à mesinha de cabeceira, do outro lado da cama.
Peguei no cinzeiro e no comando da TV.
Documentário? Canal de música? Notícias? Qualquer coisa!
Cortinas bem abertas,
(luz, muita: é fundamental!)
mente e tronco totalmente despidos, recostei-me nas almofadas a apreciar o cigarro e a brincar com os imperfeitos círculos de fumo que ia deitando no ar frio e condicionado do quarto.
“Quatro da tarde… não tenho mesmo juízo”, começava a mente a tentar vestir uma roupagem qualquer…

A campainha a tocar? É cedo!
Apago o cigarro à pressa, ajusto a toalha – não vá cair – e vou até a porta.
- Olá!
- Olá… vens cedo, não te esperava já…
- Ah não…?
- Entra!
Os meus olhos acompanharam-na enquanto entrava no quarto e a porta se fechava sem eu dar por isso: a forma como se movia, como poisava a carteira na cadeira, como se voltava e olhava e sorria para mim eram absolutamente fantásticas. Tal como o eram as formas arredondadas,
(sempre gostei de formas arredondadas)
que os meus olhos iam saboreando e as mãos ainda só adivinhavam. Irresistíveis, como dantes – como sempre.
- E então? Estás bem? Gostas de me ver?
- Sim.
“Sim”? Porra: não conseguia dizer mais?
Nestes momentos
(e com aqueles movimentos)
as palavras ficam sempre presas no pensamento.
Aquele sorriso tentador...
- Algum problema? Já não gostas? Estás arrependido?
As palavras continuavam presas atrás de um qualquer bloqueio. “Claro que gosto, como podia não gostar? Não, nada arrependido de estar aqui, claro que não!”
- Não – foi única coisa que consegui dizer.

Como podia eu dizer aquilo que devia dizer?
Opto pelo caminho da honestidade desnecessária, dizendo o que penso, destruindo um momento que pode bem ser o último? Pelo da desonestidade necessária? Deixando que tudo aconteça e tentando preservar sei lá o quê? Não é mesmo absolutamente necessário ser absolutamente honesto, desta vez e para sempre? Comigo, nem que seja?

Pondero por mais um instante, sem nada conseguir concluir.
Escondo-me atrás de novo cigarro…

A desonestidade, para além de justificada, traz hoje benefícios imediatos.
E que benefícios! E posso sempre concluir amanhã aquilo que devia ter concluído hoje...
Desonestidade desinteressada, altruísta?
Nah, desta vez não – e altruísmo é mesmo conceito apenas bíblico, inexistente na prática, toca a ser egoísta desta vez, no conceito mais carnal, e pensar que “Isto até pode ser que se componha, isto não é um erro”, convicção instantânea e convenientemente adquirida.
Convicção pouco convicta. Convicção, ainda assim.

Saí do banho.
Enrolei a toalha à volta da cintura sem o cuidado de esconder a barriga.
Acendi mais um cigarro
(devia ser o quinto cigarro da tarde, gosto de fumar mas isto está a passar as marcas)
e olhei-me ao espelho, descurando o aspecto mais lisonjeador da minha anatomia.
Fui para o quarto e deitei-me na cama, não reparando que a cinza crescia depressa na ponta do cigarro.
Cortinas bem abertas deixavam entrar o pôr do Sol e a TV emanava um ruído indiferente.
“Merda! Não tenho mesmo juízo…”

Tentar prolongar um sonho pode fazer eternizar um pesadelo.