17 agosto 2008

perfeito para mim

Teimosamente, tentamos encontrar a perfeição. De modo talvez até inconsciente, temos uma imagem, construída ao longo de anos e função de todo um conjunto de factores (culturais, educacionais) que nos orienta num determinado sentido, levando-nos a procurar o resultado prático dessa imagem.
Um dia, não interessa ao final de quanto tempo, encontra-se a materialização dessa tal imagem de tudo o que ambicionávamos encontrar (ou algo muito próximo, de acordo com a definição, "que tem tudo o que lhe pertence ter"). Por um instante, e não interessa a dimensão desse instante, existe a sensação de plenitude e acredita-se atingido o objectivo.
No instante seguinte, essa imagem - não a materialização dela - era afinal um logro auto induzido, pois essa imagem foi fruto de influências externas, nem sempre isentas, baseadas em conceitos e experiências desadequadas e desactualizadas. A perfeição que se buscava - e que então se encontrava - não era a nossa, mas a maioritariamente resultante desses factores externos, e não suficientemente pensada, amadurecida, analisada. A perfeição absoluta, se quisermos, a pensada e não a instintiva, como provavelmente tem que ser - e, talvez por isso mesmo, uma perfeição imperfeita: na perspectiva de quem a procura.

Mas talvez até sejam necessários todos os erros de casting que se cometem ao longo de uma vida para que se consiga, finalmente (!), encontrar o tal personagem, perfeito para desempenhar aquele papel principal. Porque mesmo sendo verdade que não se possa procurar e escolher, é garantidamente verdade que um dia se encontra. Tem que se encontrar.
Porque o que é perfeito para mim, ainda que esteja naquilo que se é, na forma como se faz, na maneira como se diz, acaba por não estar em nada disso: está dentro de mim.

7 comentários:

Anónimo disse...

Perfeito para mim.... só mesmo Deus!
É normal na vida termos projectos idealizados com o melhor caderno de encargos e especificações técnicas perfeitas, mas chegada a altura da obra deparamos que existem uma série de contratempos e ajustes a fazer, quer antes quer ao longo de todo o processo construtivo, que demonstram que o projecto é em si um suporte teórico a uma construção real.
Perfeição não é coisa que se encontre no ser humano, mas deve ser olhado como uma meta a atingir e guiar os nossos principios e objectivos de vida.
É como o casamento.... por muito que se queira nunca é perfeito (embora possa até parecer aos olhos de outros)... afinal trata-se da relação entre duas pessoas que nunca hão de ser perfeitas!!!
S. Francisco de Assis pedia a Deus que lhe desse forças para mudar o que estava ao seu alcance, e que igualmente lhe desse forças para aceitar aquilo que ele não podia mudar...
A perfeição.... só a DEUS pertence!
ACAT

cai de costas disse...

ACAT, sejas quem fores:
"Perfeito para mim" é aquilo que a mim melhor se adequa, logo conceito relativo.
Um sapato 42 "a mim serve perfeitamente", um 39 causar-me-ia sérios incómodos; o que não significa que aquele seja o sapato "absolutamente perfeito", pois tal sapato não existe - aqui estamos de perfeitamente acordo. Mesmo que não haja acordos perfeitos.

Se bem que os projectos sejam processos evolutivos, de adequação, nunca concordarei em ficar com um 39 (ou um 45, para o efeito), na esperança que um dia me venha a servir, tendendo neste particular em estar ao lado do rapaz de Assis: aceito que esse não é o meu número.
A perfeição absoluta pertencerá a ninguém; aquilo que é "perfeito para mim", a mim pertence. Ou pertencerá, um dia.

Anónimo disse...

O problema é que as pessoas / a vida não são como os sapatos, se assim fosse era fácil ir à sapataria arranjar Amigos e encontrar a perfeição em cada esquina!
Na vida os números dos sapatos são infinitos e nós temos de tentar aproximar a vida ao nosso número, ou o nosso número à nossa vida!
ACAT

cai de costas disse...

Claro que não são sapatos, ou estaria a esta hora bem calçado e melhor calado. Mas permite-me que use o paralelismo, if you please.

Já agora: o meu número certo é o 41,14159265(493) (dizima infinita, como bem afirmas), número que, qual Francisco, aceito complacentemente não existir. Achas que devo continuar a tentar encontrar o meu 42, ou que devo continuar a tentar adequar o meu pé qualquer número - por mais que elegante no design, brilhante no fabrico e suave no andar?

Anónimo disse...

Caro Cai-de-Costas:
considerando que a numeração dos sapatos vai de aprox 6 a 50, daria cerca de 44 tipos difrentes de numeros/pessoas!
Pelo que considero que o 42 estará bem e o 42,1 perto da perfeição, se o encontrares calça de imediato e não tires do pé!
Vai servir-te que nem uma luva!
Vê se encontras a sapataria com o 42,1!!!!
ACAT

cai de costas disse...

Quem dera fosse assim.
Estaria calado.

Anónimo disse...

Num livro que comprei para a minha filha li no prefácio:

«As Meninas exemplares não foram criadas por mim; existem na realidade: são retratos; a prova esta nas suas imperfeições. Têm defeitos, ligeiras sombras que fazem sobressair o encanto do retrato e atestam a existência do modelo»
Condessa de Ségur
In «as meninas exemplares»

Nota:
Onde se lê exemplares, leia-se perfeitas...
Onde se lê sombra, leia-se defeitos...
ACAT