28 agosto 2008

guerra fria

Tinham sido lançados os últimos misseis. Desta vez, e ao contrário do que acontece na maioria dos conflitos, as ogivas continham apenas folhetos de propaganda, apelando à pacificação e ao encontrar de uma solução consensual para a questão.
Tratava-se de uma disputa territorial, com um desenlace imprevisível. Em confronto estavam duas forças com argumentos desiguais: uma, a força ocupante, tinha do seu lado um histórico de ocupação, com todas as vantagens que a aculturação proporciona, a obra feita e o património até ao momento gerado; a segunda força, que aqui aparecerá descrita como força invasora, aparecia como arauto da liberdade e dos direitos humanos, com a promessa de um regime social justo, tolerante, com as naturais consequências da obtenção da denominada felicidade comum.

O histórico da presença territorial, iniciado há pouco mais de meia dúzia de anos, tinha sido resultado de um acordo de cooperação, que incluía um conjunto de cedências territoriais; no entanto, este acordo, que como tantos outros, tinha cláusulas ambíguas, que impediam o encontrar de uma coabitação sã e pacífica entre o povo ocupante e os nativos do território. Este pacto teve na sua génese um conjunto de anteriores iniciativas bilaterais, cujos resultados positivos auguravam um amplo sucesso, sucesso esse que estava no momento claramente a ser questionado por ambas as partes.
Mais que um regime opressor e totalitarista, estava-se em presença de um regime autoritário, pouco transigente com os hábitos autóctones e com os desejos indígenas de afirmação cultural. Para além da saturação, natural em empresas desta natureza, era este o principal factor causador de instabilidade na região.
Consciente do clima de insatisfação e do conflito latente, a denominada força invasora equacionava a invasão do território, fortemente motivada pelas afinidades culturais e, por que não, étnicas. Estas afinidades, nada evidentes, tinham sido inicialmente detectadas ainda antes do acordo de cooperação estabelecido com actual força ocupante; à época, e apenas por total incapacidade da agora denominada de força invasora, não tinha sido possível sequer agendar conversações sérias com vista à obtenção de qualquer acordo.
Existiam questões prévias que eram urgentes resolver: a autodeterminação, a liberdade de escolha e a afirmação inequívoca da vontade popular. Estas questões, fundamentais quer na política interna quer na externa da denominada força invasora, relativamente às quais esta não faria qualquer tipo de cedência, teriam que estar impreterivelmente resolvidas antes do envio de qualquer missão oficial ao território disputado. Esta obstinação persistia mesmo depois das conclusões do relatório da comitiva diplomática enviada ao território e, principalmente, depois dos relatórios das mais recentes missões de espionagem: qualquer um destes garantia a necessidade absoluta da denúncia imediata de todo e qualquer acordo e de uma urgente alteração do regime.
Apesar das recomendações dos especialistas, o governo tinha decidido nunca tentar qualquer solução salomónica, materializada numa invasão, optando pela continuação da postura conservadora, determinando que nenhuma acção seria tomada antes de realização da discussão pública sobre a questão da manutenção do acordo vigente e do referendo consequente.
Os dados estavam lançados, o envio da propaganda tinha sido a acção derradeira. Nada mais restava que aguardar por notícias.

1 comentário:

Anónimo disse...

Será que haverá soluções 100% consensuais?
Essa guerra fria, parece centrar-se no eterno dilema da condição da espécie humana. E apesar do autor referir a falta de sentido do texto, ele até poderá ter algum fundamento..
Beijo