31 agosto 2008

stuck in this moment, along the stony pass



I am not afraid of anything in this world
There's nothing you can throw at me that I haven't already heard
I'm just trying to find a decent melody
A song that I can sing in my own company

I never thought you were a fool
But darling look at you
You gotta stand up straight
Carry your own weight
These tears are going nowhere baby

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And now you can't get out of it
Don't say that later will be better
Now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

I will not forsake the colours that you bring
The nights you filled with fireworks, they left you with nothing
I am still enchanted by the light you brought to me
I listen through your ears, through your eyes I can see

And you are such a fool
To worry like you do
I know it's tough
And you can never get enough
Of what you don't really need now, my, oh my
...
I was unconscious, half asleep
The water is warm till you discover how deep
I wasn't jumping, for me it was a fall
It's a long way down to nothing at all
...
And if the night runs over
And if the day won't last
And if our way should falter
Along the stony pass
It's just a moment
This time will pass

29 agosto 2008

the hardest part

Ana acordou com o despertador faltavam um quarto para as oito.
Soltou um pequeno gemido de preguiça, esticou os braços e olhou para o lado. Sorriu ao lembrar-se que aquela não era a cama dela: era daquele homem velho que a olhava com uns olhos tranquilos e sorridentes e lhe dizia com o olhar o quanto gostava de a ver ali. De a ter ali.
Ana estava a acordar de uma noite especial - muito especial: tinha sido a primeira noite dela. Olhou para ele uma vez mais, continuando sem entender por que razão estava ali com ele: com aquele homem. Não era ele com quem ela tinha sonhado, nem com alguém parecido, sequer, ele estava longe de ser o personagem perfeito do filme de amor que a Ana tinha realizado para a vida dela. No entanto, estava ali, radiante por estar com ele, que a conseguia fazer feliz; que a fazia voltar acreditar que é possível ser-se feliz. "Que raio... como é possível... este é o homem errado...".
Não se levantaram sem antes terem repetido os gestos que se tinham prolongado pela madrugada. Abraçaram-se uma vez mais, devagar, sussurrando palavras de amor ao ouvido um do outro, fazendo promessas que os dois sabiam que não podiam fazer; mas fizeram-nas, com a certeza de que todas as palavras ditas eram verdadeiras, sentidas, carregadas de paixão. Com a certeza absoluta de que iriam amar-se sempre. Mesmo que não para sempre.
- Passa das nove, Ana, temos que despachar-nos.
- Tomas tu duche primeiro? Deixas-me ficar aqui mais um minuto a fingir que durmo?
Saíram faltavam poucos minutos para as 10, hora a que a Ana tinha que chegar ao trabalho; havia pouco trânsito, não houve dificuldade em percorrer depressa aqueles poucos quilómetros. No carro, nem o som do rádio nem os óculos escuros da Ana o impediram de perceber que ela chorava. Ele alcançou-lhe o rosto com a mão, fazendo-lhe uma pequena mas sentida carícia, enquanto esboçava um sorriso de tristeza: era um momento que ele tinha antecipado, ele sabia que, mais cedo que tarde, a Ana teria que passar por aquele processo. "E eu também... essa é que é a merda toda".
O carro imobilizou-se na rua estreita onde ficava o escritório da Ana. Olharam-se durante uns instantes, que pareceram muito mais curtos que a realidade. Ele quebrou o silêncio:
- Voltas?
- Não sei se volto...
Ele repetiu o sorriso triste de há uns minutos:
- Sabes? Fico satisfeito por me dares essa resposta... é a única que eu sei ser verdadeira...
Beijaram-se apressadamente, para ninguém os ver.
- Ana?
- Sim...?
- Não te esqueças de mim...
- Como é que tu podes imaginar que eu alguma vez poderei esquecer-te?
Ele esperou que ela atravessasse a rua antes de arrancar. O rádio estava desligado, mas ele quase que jurava conseguir ouvir numa qualquer emissora o Chris Martin a cantar "the hardest part was letting go, not taking part..." Um arrepio atravessou-lhe o pescoço: era medo.
Um medo enorme de ter acabado de a perder.

28 agosto 2008

A publicação anterior não faz sentido algum. Mas não conseguia ficar calado...

guerra fria

Tinham sido lançados os últimos misseis. Desta vez, e ao contrário do que acontece na maioria dos conflitos, as ogivas continham apenas folhetos de propaganda, apelando à pacificação e ao encontrar de uma solução consensual para a questão.
Tratava-se de uma disputa territorial, com um desenlace imprevisível. Em confronto estavam duas forças com argumentos desiguais: uma, a força ocupante, tinha do seu lado um histórico de ocupação, com todas as vantagens que a aculturação proporciona, a obra feita e o património até ao momento gerado; a segunda força, que aqui aparecerá descrita como força invasora, aparecia como arauto da liberdade e dos direitos humanos, com a promessa de um regime social justo, tolerante, com as naturais consequências da obtenção da denominada felicidade comum.

O histórico da presença territorial, iniciado há pouco mais de meia dúzia de anos, tinha sido resultado de um acordo de cooperação, que incluía um conjunto de cedências territoriais; no entanto, este acordo, que como tantos outros, tinha cláusulas ambíguas, que impediam o encontrar de uma coabitação sã e pacífica entre o povo ocupante e os nativos do território. Este pacto teve na sua génese um conjunto de anteriores iniciativas bilaterais, cujos resultados positivos auguravam um amplo sucesso, sucesso esse que estava no momento claramente a ser questionado por ambas as partes.
Mais que um regime opressor e totalitarista, estava-se em presença de um regime autoritário, pouco transigente com os hábitos autóctones e com os desejos indígenas de afirmação cultural. Para além da saturação, natural em empresas desta natureza, era este o principal factor causador de instabilidade na região.
Consciente do clima de insatisfação e do conflito latente, a denominada força invasora equacionava a invasão do território, fortemente motivada pelas afinidades culturais e, por que não, étnicas. Estas afinidades, nada evidentes, tinham sido inicialmente detectadas ainda antes do acordo de cooperação estabelecido com actual força ocupante; à época, e apenas por total incapacidade da agora denominada de força invasora, não tinha sido possível sequer agendar conversações sérias com vista à obtenção de qualquer acordo.
Existiam questões prévias que eram urgentes resolver: a autodeterminação, a liberdade de escolha e a afirmação inequívoca da vontade popular. Estas questões, fundamentais quer na política interna quer na externa da denominada força invasora, relativamente às quais esta não faria qualquer tipo de cedência, teriam que estar impreterivelmente resolvidas antes do envio de qualquer missão oficial ao território disputado. Esta obstinação persistia mesmo depois das conclusões do relatório da comitiva diplomática enviada ao território e, principalmente, depois dos relatórios das mais recentes missões de espionagem: qualquer um destes garantia a necessidade absoluta da denúncia imediata de todo e qualquer acordo e de uma urgente alteração do regime.
Apesar das recomendações dos especialistas, o governo tinha decidido nunca tentar qualquer solução salomónica, materializada numa invasão, optando pela continuação da postura conservadora, determinando que nenhuma acção seria tomada antes de realização da discussão pública sobre a questão da manutenção do acordo vigente e do referendo consequente.
Os dados estavam lançados, o envio da propaganda tinha sido a acção derradeira. Nada mais restava que aguardar por notícias.

26 agosto 2008

bright colours

Remembering the world in...




... Red...

25 agosto 2008

obrigado

Correndo o risco de tornar a leitura das mais recentes publicações num anúncio radiofónico de uma sapataria (há certamente aí no meio dos 9 leitores quem sugira nomes de etiquetas adequadas, eu evidentemente não sou o gajo certo... começando pela escolha de sapatos...), insisto no assunto, pois repentinamente fez-se luz e consegui interpretar determinadas mensagens de aconselhamento ergonómico. Antes tarde que nunca...
Essa recente descoberta obriga-me naturalmente a uma vénia de agradecimento perante quem, ainda que de modo dissimulado e incógnito, não se poupou a esforços no sentido de tentar arquitectar um modo de meter algum senso nesta cabeça dura, desenhando imagens que tentam ilustrar o caminho óbvio; porém, a espessura craniana impede o estímulo mais eficaz do encéfalo, deste, para quem não é o óbvio que faz necessariamente sentido.
Importa referir que nenhum esforço é vão, pois apesar da falta de eficácia quanto ao objectivo primeiro, os resquícios de massa cinzenta que teimam em povoar o vácuo aparente conseguem, ainda assim, assimilar a parte mais relevante da informação recebida: que é aquela em que fica registada a prova de amizade e preocupação.
Eu sei, nem sequer sou eu o núcleo central dessa amizade e preocupação; e talvez até por isso o reconhecimento que fica seja ainda maior.
Pelo passado e pelo presente: bem hajas.

24 agosto 2008

i stand corrected

Sapatos que se prezam não têm tacões, têm saltos.

como quem se vê ao espelho p'la manhã

21 agosto 2008

referenciais 2


Esta moça, que nunca se atreverá a entrar pela minha janela, dá um significado totalmente novo à expressão "cair de costas".

sozinho em casa

Dada a diferença horária e a necessidade de cumprir horários, apenas tenho visto imagens ao vivo de Pequim em momentos de insónia. Ontem (hoje, mais correctamente), durante a tal insónia, a transmissão centrou-se no atletismo, numa modalidade que nunca entendi.

Certamente inventada por um grupo de mandriões que um dia se lembraram que também queriam ser atletas, suficiente e convenientemente distraídos para não entenderem que existe uma forma de locomoção mais natural, mais eficiente (quase o dobro da velocidade), que evita posturas físicas contra-natura e, mais que tudo, absolutamente ridículas (a imagem não me deixa mentir), a marcha é seguramente a modalidade que nunca conseguirei entender.

Com um surpreendentemente elevado número de praticantes, alguns com nomes insuspeitos e que dão origem a headlines bombásticos, é uma modalidade com regras apertadas e de muito difícil controlo, que, independentemente das frequentes desclassificações, tornam complicado o garantir da verdade desportiva. O estranho de tudo isto é que a não observância das regras da competição não tem origem na falta de desportivismo dos atletas, esta aparece descrita em qualquer compêndio de anatomia, que nem é necessário consultar: basta olhar para um praticante e ver que a natureza não nos fez assim.

Nem o ódio pela corrida, que eu, mais que a maioria, tão bem compreendo, pode justificar tais figuras em público.

sauregurkenzeit

Complicado postar nesta altura do ano...

20 agosto 2008

scare...


19 agosto 2008

in someone else's shoes

Só para simplificar e clarifcar uma questão.


Imaginemos...


Vamos um belo dia pela rua e vemos, ou imaginamos ver, o tal par, o da medida certa nuns pés estranhos. Admitamos que não lhes ficam bem, talvez tenham um ar desajeitado a andar neles, talvez até possamos dizer que aquela forma de andar falha totalmente no maximizar do potencial do calçado, que insiste em arrastar os calcanhares e desgasta aqueles tacões, naquele passo indolente e desinteressado.

E agora, qual o próximo passo...?



(os conselhos que o Tejo dá...)

17 agosto 2008

referenciais


Até pelo horário a que foram transmitidas a maioria das provas, apenas assisti a um conjunto reduzido de eventos dos Jogos. Este foi um dos que mais me impressionou, pela facilidade com que aquele bólide atravessou toda a recta da pista, deixando a uma distância enorme quem o tentava acompanhar - cinco deles ficaram abaixo da barreira dos 10 segundos.
Penso que não temos, na maioria das vezes, a noção da dimensão dos feitos destes atletas - ok, o Phelps ganhou uma infinidade de medalhas e a velocidade a que ele nadou fui suficiente para quebrar os recordes mundiais da maioria das provas em que participou, mas ainda assim não se me afigura simples entender o que significa nadar os 200 mariposa em 1:52.

Nas provas de velocidade pura (e no salto em comprimento) torna-se mais fácil para mim visualizar a magnitude do que significa fazer 100 m naquele tempo.
Fazendo contas e considerando que os metros de arranque são mais lentos, penso ser aceitável assumir que este tipo corre os segundos 50 m em 4 segundos; se assim for, cada metro depois dos 50 é ultrapassado em oito centésimos de segundo. Torna-se para mim fácil concluir da dimensão da proeza quando imagino que este tipo percorre a minha sala em 0.32 segundos...

perfeito para mim

Teimosamente, tentamos encontrar a perfeição. De modo talvez até inconsciente, temos uma imagem, construída ao longo de anos e função de todo um conjunto de factores (culturais, educacionais) que nos orienta num determinado sentido, levando-nos a procurar o resultado prático dessa imagem.
Um dia, não interessa ao final de quanto tempo, encontra-se a materialização dessa tal imagem de tudo o que ambicionávamos encontrar (ou algo muito próximo, de acordo com a definição, "que tem tudo o que lhe pertence ter"). Por um instante, e não interessa a dimensão desse instante, existe a sensação de plenitude e acredita-se atingido o objectivo.
No instante seguinte, essa imagem - não a materialização dela - era afinal um logro auto induzido, pois essa imagem foi fruto de influências externas, nem sempre isentas, baseadas em conceitos e experiências desadequadas e desactualizadas. A perfeição que se buscava - e que então se encontrava - não era a nossa, mas a maioritariamente resultante desses factores externos, e não suficientemente pensada, amadurecida, analisada. A perfeição absoluta, se quisermos, a pensada e não a instintiva, como provavelmente tem que ser - e, talvez por isso mesmo, uma perfeição imperfeita: na perspectiva de quem a procura.

Mas talvez até sejam necessários todos os erros de casting que se cometem ao longo de uma vida para que se consiga, finalmente (!), encontrar o tal personagem, perfeito para desempenhar aquele papel principal. Porque mesmo sendo verdade que não se possa procurar e escolher, é garantidamente verdade que um dia se encontra. Tem que se encontrar.
Porque o que é perfeito para mim, ainda que esteja naquilo que se é, na forma como se faz, na maneira como se diz, acaba por não estar em nada disso: está dentro de mim.

perfeito?

do Latim: perfectu

adjectivo:
- acabado;
- completo;
- que não tem defeito físico ou moral;
- que tem tudo o que lhe pertence ter;
- magistral;
- primoroso;


Gramática:
- diz-se do tempo verbal que indica a acção realizada em relação a certa época passada.



Easy does it...

perfect?

"The belief that perfection can be achieved affects the lives of countless numbers of people. Many are obsessed with achieving perfection to the point that it affects their physical and psychological well-being. (...) They seek the perfect mate, the perfect job, the perfect body, and are often unhappy in their quest. (...) These people experience disappointment and dissatisfaction and are often unable to enjoy the simple pleasures of life.
(...)
Perfection is meant to be an abstract ideal, it is a concept designed to spur us on to greater heights. The meaning of the word perfection is illustrated by the phrase "striving toward perfection." Few people who adopt seeking perfection as a value (as opposed to achieving perfection) expect to achieve it. Seeking perfection merely connotes that process of moving closer to an abstract ideal.
The concept of perfection in itself has no meaning in a concrete sense. It only takes on meaning when we ask the question "perfect for what?" In other words, it is a relative concept. Perfect weather for sailing is not the same as perfect weather for ice-skating; the perfect fishing rod when deep sea fishing for marlin is different from that used when lake fishing for trout.
(...)
Our society reinforces perfection. From childhood we learn that being "good" is very important. We learn that "good" means being quiet, orderly, clean, and disciplined, where being controlled is rewarded. (...) From early on we train our children to function in the world where being compulsive and perfect pays off.
Schools further reinforce these values. (...) Conformity is the goal in many schools and controlling the children takes a higher priority than learning and discovery. Perfect children are quiet children."

E.Dreyfus, Search of Perfection



Só para tomar balanço...

15 agosto 2008

time to wise up




You think, one drink
Will shrink you 'till you're underground

14 agosto 2008

perto de casa

Muito perto, mesmo.
A chave não cumpriu a missão e a fechadura não abriu, a escada foi o refúgio temporário. Eram 19 horas quando constatava a avaria e ao telefone diziam-me que "ele está aí pelas 20h30, mais ou menos". O facto de ter regressado das compras facilitou um improvisado jantar no carro, enquanto esperávamos pelas 21 e qualquer coisa, hora a que a mão de obra especializada acabava por chegar e iniciava um concerto de marteladas em dó menor - muito menor: afinal a porta era minha, não dele.
A chave não tinha qualquer responsabilidade, apurou-se depois de, hora e meia mais tarde e literalmente a ferros, desmontada a fechadura: era necessária substituição total, mas "isso só amanhã". A fechadura acabaria mesmo por ser trocada por um cheque generosamente caligrafado, com o qual concluí ter laços emocionais fortes, tal foi a dificuldade com que me separei dele.





Realmente, é necessário não ter mesmo assunto para descrever aqui este tipo de merdas, não é?

13 agosto 2008

38 special


Vem comigo, vem dar este tiro no escuro, tu podes ajudar-me a ter a emoção que eu sei que a vida pode ter.
Que tem.
Vem, prometo que só te farei dar tiros certeiros, directos aos alvos que são os teus preferidos, as minhas mãos hábeis deixarão que sejas a arma fatal que sabes que podes ser.
Que és.
Que no fundo desse coldre não te fazes ouvir, o teu poder de fogo desaparece, num papel de arma de reserva, não foi para isso que te criaram, não foi assim que passaste os primeiros anos da tua existência. E tu nem sabes ser assim.
Vem, dá este tiro no escuro. Que com as faíscas do disparo se fará luz, fazendo com que os que vêm depois deixem de ser no escuro, nem será necessário gritar mais "fogo!" para que tudo esteja visível. Dá este tiro, sem medo que saia por uma qualquer culatra não visível, que pior que o medo do não ser é a certeza do saber como se é. E disso sei eu.

Vem. Enquanto há luz deste lado.



Expressão geralmente utilizada para designar um tipo de revólver, o "38 Special" é uma munição com aro, de fogo central, projectada pela Smith & Wesson. É mais utilizada em revolveres apesar de existirem pistolas que usam este cartucho. O 38 Special foi o calibre padrão da maioria das forças policiais nos Estados Unidos da década de 1920 até a de 1980.
(designa-se "38" pelo diâmetro aproximado de 0.38 polegadas)

12 agosto 2008


Talvez seja esta a dieta que poupa horas de esforço.

10 agosto 2008

no pain...

A Alemanha do final do século XIX produziu dois indivíduos que muito admiro. Virtude do trabalho de pesquisa que efectuaram, consigo nos dias que correm evitar sessões diárias semelhantes à que agora terminei.
Na verdade, o esforço necessário à manutenção (termo simpático e estimulador da auto-estima que pode e deve ser substituído por recuperação) da forma física efectuado através do pedalar de uma bicicleta, para além de doloroso, é visivelmente moroso - comprovado pelo facto de estes 20 minutos terem resultado no reactivar de quase todas as glândulas sudoríferas, há longo adormecidas, excepto aquelas situadas na zona abdominal que, seguramente envergonhadas pela excessiva presença de tecido adiposo nas imediações, abstiveram-se de me dar a satisfação de produzir uma gota que fosse.
Sendo early days, não será esta ausência que irá demover-me da tentar nova e mais prolongada proeza da mesma natureza, arrojando-me dessa vez, para além do que promete a força humana, a ultrapassar o fim da rua e ficar pelo menos a dois quarteirões de distância.
Tudo isto usando apenas meios próprios e esquecendo por um instante o génio das invenções dos tios Otto e Diesel.

08 agosto 2008

o meu melhor amigo

Recentemente aconselharam-me um teste para confirmar quem gosta realmente de nós. Trata-se de uma experiência relativamente simples e de resultados absolutamente infalíveis.
Em momentos distintos, colocar o cão e a mulher (namorada, amiga, amante, usar a classificação mais apropriada a cada um) na mala do carro; esperar uma hora e deixá-los sair.
Depois desse período na bagageira, supostamente apenas um deles vai estar verdadeiramente contente por nos ver. Tentem: garanto que poderão obter resultados absolutamente surpreendentes e inesperados.
Trust me, I know what I'm on about!

06 agosto 2008

na verdade...

... algumas verdades existem.
Ainda que possa ter mantido alguns (certamente que poucos) na
dúvida, também fui dando algumas pistas sobre os resultados do investimento que tenho vindo a fazer ao longo de muitos anos.
Motivado pelas razões mais fúteis que possam ser consideradas, naturalmente relacionadas com a estética, decidi que o rumo dos acontecimentos vai ser alterado.
De qualquer modo, os benefícios colaterais não são de desprezar, já que a doença que agora me afecta - sim, a obesidade é considerada como tal - poderá fazer reincidir uma
outra que me trouxe alguma preocupação, para além de agravar outras condições presentes, como uma preserverante roncopatia, indissociável da eterna apneia.

De qualquer modo, vai ser um dos mais longos caminhos. Talvez até um caminho sem fim...





Obesidade: s.f., qualidade de obeso; estado patológico caracterizado pelo desenvolvimento exagerado do tecido adiposo; gordura excessiva com proeminência do ventre.

02 agosto 2008

story - part 11

Walk the lonely street of dreams






Goin' down the only road I've ever known

esperar

Lisboa, anos 30 do século XX.
Num eléctrico lotado, um cavalheiro vislumbra uma senhora de pé, sem lugar. De imediato, levanta-se e oferece o seu lugar à senhora, provavelmente erguendo levemente o chapéu. A senhora sorri e agradece.
Passados largos instantes, ao estranhar o facto de a senhora permanecer de pé, o cavalheiro inquire-a finalmente:
- A senhora não quer sentar-se?
- Sim, muito obrigado: estou só à espera que o assento arrefeça...
- Ah, muito bem - responde o cavalheiro - Então, se não se importa, enquanto a senhora espera eu vou-me sentando.


Episódio contado como verídico por um excelente e credível contador de histórias.

01 agosto 2008

the day after

Acordei. Era tarde, devia despachar-me para ir trabalhar e tentar chegar a uma hora decente. Ainda assim, o olfacto fez-me permanecer parado durante mais uns minutos, a recordar os deliciosos momentos da véspera.
Levantei-me lentamente, como faço sempre, para cumprir a rotina da barba e do duche. As paredes tinham um aspecto diferente, aliás, tudo parecia diferente: todo o local tinha sido alterado pela tua presença, a memória dela fazia com que tudo me parecesse novo. Melhor.
Sem pressas, arranjei-me e saí. A manhã estava bonita, soalheira sem demasiado calor, não fazia sentido correr para o trabalho sem primeiro encher os sentidos com o que a manhã oferecia. Demorei-me a tomar um café, comprei biscoitos para trazer para o escritório, quem comigo trabalha tinha que compartilhar o meu estado de espírito – mesmo sem saber a razão.

Todos os dias a vida se torna mais complexa, de cada vez que vivo uma nova experiência aumentam os elementos para decidir sobre a forma ideal, de entre todos aqueles constantes da demasiado extensa base de dados. Alguns dos dados recolhidos facilitam francamente a vida, constituindo experiências negativas, a não repetir, servem-me para ficar com a certeza do que não quero.
Ontem, serviu para complicar, parecia ser definitivamente o que eu quero; é, definitivamente, o que eu não posso ter. Por agora.

Sem esperança, mas à espera; sem possibilidade de presente, mas com a promessa de futuro. De que forma? Da que conseguir… porque quero. Muito.