03 setembro 2007

território repetido

- Voltei.
- Não voltaste nada.
- Como não? Se te estou a dizer...
- Está bem, voltaste: mas não para aqui, voltaste para de onde nunca saíste.
- ... não estou a entender nada...
- Lembras-te do dia em que te despediste?
- Sim, claro.
- Nesse dia, não foste embora; nesse dia, tiveste a ilusão de ir - ou antes, quiseste ir, pensaste que era o caminho certo; pensaste que foste e eu ajudei a que acreditasses nessa partida. Mas, na realidade, nunca saíste desse local, ficaste sempre aí, a meio de lado nenhum: porque é aí que escolhes estar.
...
- Não me parece que tenhas razão. Eu fui, mesmo: MESMO.
- Foste: cumprir o teu dever. Mas não chegaste a ir.
...
- Não consigo ver as coisas assim... Parece-me que estás a tirar conclusões abusivas e excessivas de uma realidade que já não conheces tão bem como um dia conheceste - como conhecias, antes da minha partida.
- Talvez não conheça, talvez tenhas razão. Certamente que perdi muitos fios a essa meada, a esse rolo emaranhado que és, mas penso nunca ter deixado de conhecer e entender o que está no teu núcleo.
...
- Pensa nisto.
- Está bem, vou pensar.
...
- É verdade, há mais uma coisa que também deves ter em atenção: também perdeste alguns fios a este novelo deste lado.
- Está bem.

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