28 junho 2007

território árido

- Vou embora. Deixo-te aqui.
- Eu já sabia que ias, percebi há uns dias que tinhas que ir. :-)
- Não te zangas comigo?
- Por que razão haveria eu de me zangar?
- Porque estiveste sempre aqui, ao meu lado, a fazer-me companhia, a guiar-me e agora eu vou embora, deixo-te sozinho…
- Eu vivi sempre sozinho, estou habituado. Sabes, concluo agora que mesmo nos momentos em que não vivi sozinho, fisicamente, estava só, apenas com a ilusão de não o estar. Por isso, vai custar, sim, mas sobrevivo sem problemas, não te preocupes.

- Calaste-te?
- Sim. Fico sem saber o que dizer.
- Também não é preciso que digas alguma coisa.
- Sinto que não é justo, para ti, fazeres este caminho todo comigo, preocupado em ajudar e orientar, e agora…
- Novamente, não te preocupes, não estive aqui para não estar sozinho. Fiz-te companhia por ter percebido que precisavas. Estive aqui de um modo egoísta, até, não tens mesmo com que te preocupar.
- Egoísta? Como assim? Eu nunca te dei nada, limitei-me apenas a deixar que me puxasses, que me empurrasses, conforme a ocasião, deixei que me falasses, que me gritasses, ralhasses, enfim, tu sabes. Foste tu quem fez tudo…
- Sim, tudo isso é verdade, fiz isso tudo, é verdade. Mas repara, tu deixaste que eu fizesse tudo isso e tudo isso dá-me prazer, eu gosto da sensação de poder fazer alguma coisa mudar, fazer acontecer, sabes? Preciso até desta sensação: sentir-me importante, sentir-me válido. Por isso, deixaste-me sentir bem, permitiste-me o prazer de fazer coisas que eu adoro fazer. Sim, foi egoísmo. Fiz-te companhia por eu ter percebido que EU precisava.
- Entendo…
- Ainda bem, fico satisfeito.
- Posso descansar, então?
- Claro que podes! E olha…
- Sim...?
- Estás no caminho certo, eu sei.
...
- Vai… agora sei que podes ir sem mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

A hora da partida não é determinada pelo caminho certo que temos pela frente, mas pelo caminho errado que ficou para trás

i.