19 junho 2007

to be or not to be

Longe de ser um especialista em línguas, julgo saber que apenas em poucos idiomas é feita a distinção verbal que fazemos em português entre o “ser” e o “estar”. De facto, esta característica impede alguma ambiguidade no falar, evitando, por exemplo, que um “je suis malade” possa ser entendido como um “sou doente”, ou “sou louco”, quando queremos dizer “estou doente”, ou simplesmente “estou louco”; ou ainda que um “I am shy” possa ser interpretado como “estou envergonhado”, por contraponto ao “sou envergonhado” que queríamos significar.

Este carácter de rigor que a língua detém não é, contudo, aproveitado ao máximo nem sequer utilizado correctamente, tantas vezes. De facto, usamos um “sou uma besta” para classificar não a atitude de uma vida, mas uma situação que se deseja muito mais transitória, como um erro cometido casualmente. Tal como usamos o mesmo verbo na expressão “sou divorciado”, por exemplo, quando sabemos de antemão que “ser divorciado” não significa mais que “estar divorciado”, pode ser uma situação transitória – só o deixar de ser solteiro é que é, neste enquadramento, efectivamente definitivo.

Por outro lado, damos um uso adequado ao verbo num outro tipo de expressões, como no “estou apaixonado”. E aqui, é pena que o verbo tenha que ser este.




… that is the question;
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing, end them.

4 comentários:

V. disse...

Nem sempre o verbo é esse. Às vezes "somos" e pensamos que "estamos". E tu?

Anónimo disse...

Não TEM que ser este..."estou apaixonado" pode perfeitamente passar por "sou apaixonado"...pelo que me disseram, é apaixonado por carros (foi um gajo de uma oficina num rotunda qualquer...um chibo mete nojo que se descoseu..) sabe lá o Monsieur o que vai acontecer amanhã.....

Ha!!! para doido, é "je suis foux..."
Para Para apaixonado é "je suis tomber amoureux."


Para mais informações, contacte-me para saber honorários...


:) (vous savez que je suis....)

... disse...

A diferença entre o estar apaixonado e o ser apaixonado, como que incluindo o sujeito no verbo e não o contrário, é a melhor demontração da nossa riqueza linguística...

MiSs Detective disse...

pois é pois é.. muitas coisas acabam pela imprecisão dos tempos e dos verbos que usamos