16 junho 2007

Ambrósio

Conheci o João Costa Pereira (Jonas para os mais próximos) tinha eu dez anos. No local onde nos conhecemos, era praticamente obrigatória a existência de uma alcunha, pelo que foi Ambrósio o nome pelo qual passou a responder. Durante os seis anos seguintes convivemos diariamente – nós e mais umas cinco centenas de outros jovens.
A vida adulta separou-nos e, entre outras escolas, empregos e casamentos, passámos uma dúzia de anos sem nos cruzarmos – mas a tal meia dúzia de anos de convívio tinha-nos tornado inseparáveis para a vida.
Descobrimos uma paixão comum pela velocidade, chegou a mostrar-me bandeiras no Autódromo (azuis, seguramente), discutimos várias vezes pontos de travagem, locais de ultrapassagem, pilotos favoritos e máquinas de eleição.
Há uns quatro anos, descobriu uma ruptura muscular, que era, afinal, um tumor maligno. De voz embargada, disse-me o cirurgião (que faz parte dos tais quinhentos) depois da remoção do tumor que “o nosso Ambrósio está lixado, não o vamos ter por mais do que uns seis meses”. Mas o Ambrósio riu-se da doença e dos seis meses que lhe prognosticaram, sobrevivendo a todas os violentos tratamentos a que o sujeitaram, correndo entre Cascais e Pamplona, sem alguma vez desistir de viver, suportando a dor com coragem e demonstrando sempre uma disposição de fazer inveja a qualquer um. “Não tenho medo de morrer", dizia-me sorridente, "mas prefiro que não seja já.”
A vocação dele pelos computadores fez com que o contacto fosse sempre mantido, quase todos os dias havia um e-mail com mais uma anedota, com mais um clip sobre Fórmula 1, com mais uma piada sobre a fraca performance do Barrichelo.

O João morreu ontem. Era meu amigo.

12 comentários:

Anónimo disse...

Perder um amigo traz-nos sempre a sensação de ficarmos mais pobres...

... mesmo que seja atenuada por sabermos que o sofrimento fisico terminou.

i.

ThunderDrum disse...

Os meus sentimentos...
Um abraço enorme!

Sofia disse...

..........pois.........


"pois" é uma palavra utilizada quando se quer ter voz activa mas não se tem nada para dizer (que te possa animar neste momento)

V. disse...

Lamento muito pela perca do teu amigo.

Um abraço.

Anónimo disse...

Todas as palavras sao redundantes quando nao ha palavras. Deixo-te um beijinho apenas...

wednesday disse...

Lamento. Os amigos são pérolas. Mas no coração podem existir para sempre.

Anónimo disse...

O Jonas com a sua coragem e força ganhou o 1º lugar no podium.

Anónimo disse...

O meu Pai era a pessoa mais forte que conheço.Continuo a admirá-lo e a tentar segui-lo.

Pai, adoro-te e estarás sempre no meu coração!

... disse...

Morreu o homem

Mamadú Baldé morreu. Mamadú Baldé, o sábio que falava com Alá e era bom e era justo, morreu.
Cavaleiros e tambores levaram a notícia a toda a parte: subiram as encostas do Futa-Djalon e desceram para o mar. Percorreram o Sudão até Cao e Tombocutú e desceram ao lago Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu: morreu Mamadú Baldé:
O sol parou o seu caminho, espreitou para Labé, viu Mamadú morto, e continuou. A lua parou também o seu caminho, espreitou e continuou.
Os rios que nascem no tecto do mundo, pararam na sua corrida para o mar e prosseguiram. E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu."



Artur Augusto da Silva (poeta guineense)

Anónimo disse...

Tb faço parte dos "quinhentos" que cresceu com o Ambrósio. Além disso, fui-me cruzando ao longo dos anos com ele no Autódromo, na OTA, em Vila do Conde e por aí, sem fazer a minima ideia do que se passava. Embora nunca tenha privado muito com ele, tenho pena. Tb era meu amigo. Sinto muito.

Anónimo disse...

Conheci o Jonas em Macau. Era mais um "Mouro" que ia integrado numa comitiva para o Grande Prémio local...dali, pensava aqui o Tripeiro, não viria nada de novo e de bom. ENGANEI-ME!!!
Ainda andou 3 meses a tentar saber o que era uma "sandes de anho" mas lá chegou!!!
Tenho a certeza que agora no Céu, as bandeiras azuis que ele vai mostar ao Senna ou ao Alboreto (entre outros) se vão confundir entre as gargalhadas sonoras e as piadas mordazes!!!
Jonas, vai guardando aí um lugarito que nós um dia também queremos dar umas bandeiras no "Posto 5" ou no "Praia Azul"

Anónimo disse...

Merda... (aqui no Norte falamos assim!...) Acabou! Porque sabíamos o final mas, como ele, fingíamos acreditar que podia acabar de outra maneira!... E fica a pergunta! Como é possível um "Mouro" ter deixado marca em "tanto gajo do Norte"?... Devia ser mesmo BOM MOÇO...