26 junho 2008

contribuições e impostos

8 anos e 5 moradas mais tarde, decidi que era altura de informar a DGV (ou IMTT, como agora parece denominar-se) a residência definitiva.
Mal sabia eu.
Aproveitando o período de desemprego no final do Verão passado, em que o tempo sobrava até para essas coisas, dirigi-me à loja do cidadão. Num par de horas tratei de tudo e ainda deu tempo para renovar o passaporte. Fiquei logo a saber que "isto vai demorar, a emissão de cartas está atrasada, devem ser uns 5 meses" e recebi um carimbo no velho documento côr de rosa que o validava até Janeiro. O "há-de receber a carta em casa" deixou-me descansado quanto ao trabalho que o processo me ia dar, "os serviços que temos no País estão a evoluir", deduzi.
Mal sabia eu.
Sim, que mandavam a carta até mandavam, mas era por correio registado, descobri eu na abertura mensal da caixa de correio para limpar a publicidade indesejada. Telefone para que te quero, "a sua carta agora tem que ser levantada na antiga DGV, ali em Entrecampos, e tem que levar a guia", "qual guia, nunca me deram nenhuma?, mas deixe estar, eu vou lá, hão-de ma dar..."
Mal sabia eu.
Fui almoçar por aquela zona, mesa marcada para as doze e 30, meio-dia e 20 estou eu à porta a retirar um ticket para ganhar vez para ser atendido. Era o 166, a fila ia no 50, "se me despachar a almoçar chego aqui a tempo de ser atendido". Catorze e trinta, lá estava eu, o electrónico na parede informava que quem estava a ser atendido era... o 64. "Bem, ainda tenho mais uns assuntos para tratar, volto daqui a uma hora", e fui. Dezasseis horas: a evolução tinha sido alucinante, estava o 90 a ser atendido, 26 pessoas em hora e meia, a esmagadora maioria "vem aqui para carimbar as guias e prolongar o prazo de validade", dizia a vigilante que estava à porta, rapidamente calculei 12 minutos por carimbadela, dado estarem 2 guichets ao serviço.
Esta era a minha terceira tentativa para ir ao tal Instituto - chamado da Mobilidade... deve ser para dar um tom animado à designação; nas anteriores, mais de duzentos números de espera tinham-me desmotivado.

...
Os guichets de atendimento encontram-se divididos em 5 filas de espera: condutores - particulares, condutores - agências de documentação, veículos - particulares, veículos - agências de documentação e um outro, cujo nome não me interessou. Não precisei de recorrer à cadeira de estatística de há vinte e tal anos para concluir que as agências, mesmo tendo supostamente uma imensidão de processos a tratar, eram atendidas com muito maior celeridade, bastou olhar para o numerador no painel.

A morosidade nos serviços, como a que experimentei e vou continuar a experimentar, bem como a falta de qualidade no atendimento, estimulam o aparecimento de processos alternativos, no caso as agências de documentação, que permitem ao cidadão maior conforto na resolução de questões administrativas. Adepto de processos simples, compreendo que algumas questões apresentam um determinado grau de dificuldade de resolução e não seja fácil contornar determinados mecanismos, e aceito por isso pagar para que alguém me resolva alguns dos meus problemas e necessidades; porque acrescentam valor.
É - deve ser - preocupação do Estado a promoção do emprego; é ainda obrigação do cidadão ser contribuinte, pagando uma prestação de solidariedade que permita apoiar quem não tem - ou não pode ter - trabalho. Até aqui, sem problema.

O que não aceito é que sejam as instituições do Estado a causar deliberadamente entraves aos cidadãos, facilitando a vida aos tais agentes, fazendo com que estes agentes sobrevivam não à custa da mencionada e necessária morosidade processual, mas estejam, isso sim, a ser colocados na situação de subsidiados, acrescentanto um valor falso e artificial ao processo. Neste panorama, estamos a dar uma contribuição adicional para o desemprego, sendo obrigados a pagar serviços desnecessários, dos quais o Estado usufrui directamente, uma vez que são menos os cidadãos a usufruir de subsídio, e indirectamente, porque a estes (e às agências) são também cobrados impostos.

Mais uma vez, talvez o crime compense. Neste caso, se mudares de casa, não mudes de carta.
Should have known better.

1 comentário:

V. disse...

Eu, por meu lado, não tive um único motivo de queixa quando mudei a minha carta pelo mesmo motivo. Está bem que também não demorei 8 anos para o fazer... terás sido "castigado" pela tua preguiçite e desleixo?

;)