02 janeiro 2009

eulogy?

Tinha uma enorme capacidade de entrega, estava sempre lá quando era necessário, pronto para dar, dizia frequentes vezes ao telefone “Queres que vá ter contigo? Diz-me onde estás…” e bastava uma resposta positiva, estivesse onde estivesse largava tudo (julgo que tudo não é um exagero) e aparecia, talvez até com uma garrafa na mão, ou com um chocolate, qualquer coisa que fizesse despertar um sorriso ou enxugasse uma lágrima do outro lado.
Sei que era meu amigo, que gostava de mim; mas, e digo-o sem qualquer tipo de inveja, sem que me tivesse tratado ostensivamente mal, nunca me tratou do mesmo modo que aos demais, muitas vezes me deixou ficar para um segundo plano. Não me lembro que alguma vez isso me tivesse incomodado, sequer, sempre compreendi as escolhas que fez – afinal, eu precisava menos que os outros, julgo que por ele me considerar mais forte, mais auto-suficiente, e não precisar do tal chocolate nem da tal garrafa.
Nunca entendi o que o motivava, no entanto, nem nunca percebi que procurasse mais que a satisfação de ver enxutas as lágrimas ou de saber que o sorriso tinha sido obra dele; talvez procurasse reconhecimento por tais acções, talvez fosse uma forma de expiar algo do passado dele, que talvez nem ele compreendesse. Ou talvez fosse apenas o modo particular que tinha e o único que encontrava para tentar comprar aquilo que sentia não conseguir ter de modo gratuito – muito embora me queira parecer que jamais o conseguiria, pois preenchia imediatamente tudo o que uma vez foi espaço para conquista.

Já não sei dele há algum tempo, tem andado metido com ele próprio.
Da próxima vez que o vir, espero que esteja mudado. Porque aquele modo de ser não lhe traz qualquer benefício. Nem lhe faz bem algum.