30 outubro 2008

razão

do Lat. ratione

s. f.,
- modo de pensar próprio ao Homem;
- faculdade de raciocinar ou de estabelecer conceitos e proposições de modo discursivo (não intuitivo), segundo as regras lógicas do raciocínio;
- faculdade dos princípios;
- faculdade de distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal;
- bom senso;
- justiça;
- dever;
- rectidão de espírito;
- prova por argumento;
- causa;
- motivo;
- ideia justificativa;
- percentagem;
- taxa de juros;

Agora... quem é que a tem sempre?

Um dia, a dança de cardinais terá fim.

28 outubro 2008

sweet spot

A questão nem é tanto encontrá-lo, é bem mais complicado tomar consciência de que estamos perante tal fenómeno. Uma vez assimilada e ultrapassada esta questão, podemos então ir até lá e tocar-lhe, as vezes que entendermos, irá sempre funcionar (ou, pelo menos, até um dia), iremos sempre obter a reacção desejada.
Todos os temos, todos temos a capacidade para os encontrar e todos os estimulamos, com ou sem a consciência de que o estamos efectivamente a fazer, mas sempre com intenção - mas nem sempre com a melhor delas. Talvez seja esse mesmo o segredo.

24 outubro 2008

desta outra água...

Aos sábados, ele sentava-se na mesa do canto, pedia a empada e a coca-cola "de garrafa, tem menos gás que a de lata", comia lentamente e em silêncio, sempre com aquela cara triste - seria zangada? -, sem um sorriso, sem uma expressão, sequer. Raramente vinha acompanhado e menos vezes ainda repetia a companhia, eram quase sempre caras novas as que ele dava a conhecer ao pessoal do café, aquelas sorridentes e bem dispostas raparigas, de cuja disposição ele desconfiava num praticamente inaudível "que foi que eu disse? por que se riem de mim?", pergunta que invariavelmente era respondida com um divertido "não é nada!".
Ao longo dos anos em que esta rotina se repetia, contaram-se pelos dedos das mãos os sorrisos que elas viram na cara dele; eram sorrisos radiosos e encantadores, e, afinal, no Luís, "o do carro azul", como tantas vezes lhe chamavam, parecia subsistir uma réstia de esperança e de alegria - ninguém podia estar assim tão zangado com a vida...
Naquela tarde de Outono entrou uma vez mais na porta, com o habitual "olá, boa tarde" em tom assustador, mais que cordial. Quebrou a regra e pediu um café e um pastel de nata, "um daqueles mais bronzeados", sentou-se na mesa mesmo à frente do balcão, a dele estava ocupada por um casal de sexagenários que tomavam conta da neta, uma irritante criança com uns 7 anos, dois laçarotes no cabelo a mais e pelos menos uma meia dúzia de palmadas a menos, a quem o Luís lançava uns frequentes e eficazes olhares de reprovação: ele sabia que conseguia assustar - nem que fosse apenas uma criança.
Do outro lado do balcão vinha o habitual sussurro da coscuvilhice, os comentários entre dentes e os risos inconvenientes - que só a ele podiam ser dirigidos. Hoje, falava-se das regras quebradas: do pastel de nata e do café em vez da "cola, de garrafa", que tinha menos gás que a de lata e da mesa que não era a mesma, mais perto delas, facto que as obrigava a comentar mais baixo. O quebrar da terceira regra calou-lhes os risos e os comentários: as lágrimas não paravam de correr pela face do Luís.

23 outubro 2008

obrigado




"Não penses demasiado no futuro. Podes esquecer-te do presente."

chuva


e acabou-se toda a diversão em duas rodas.

22 outubro 2008

strange days

Today, more than in any other ordinary day.

Porque mesmo quando os dias são normais, o tempo nunca é o suficiente, escapa-se-nos por entre os dedos.
Porque quando, como hoje, os dias não são normais, o tempo nunca é o suficiente, escapa-se-me por entre os dedos; porque mesmo que esteja sempre que posso, sempre que podes e me deixas, porque mesmo que tenha tudo anotado, aqui mesmo, na ponta da língua, tudo o que tenho para te dizer, tudo o que te quero contar, todas as perguntas que tenho para te fazer, que recapitulo naqueles poucos minutos que demoro a ir ter contigo... o tempo esgotou-se, acabou, e dou por mim a pensar por que não perguntei, por que não falei, por que não disse e não consegui ouvir, a pensar se aquilo em que gastámos o tempo era de facto o mais importante ou se apenas urgente.

Será que um dia os dias serão normais?
Um dia... antes que o tempo se esgote?

21 outubro 2008

(ainda) do outro lado

Foi uma curta semana, passada com sono e moderação no uso das fichas e das moedas.

Mas não é necessário que as emoções sejam fortes ou glamorosas para que valham a pena recordar: no Peggy Sue, um diner literalmente no meio de lado nenhum, no deserto do Mojave, que replicava fielmente os anos 50, carregado de memorabilia da época (i.e., Elvis à exaustão e James Dean aqui e ali), a Marni serviu-me o maior hamburger que alguma vez vi na vida - talvez o primeiro que eu tenha falhado em comer até ao fim, seguido de uma deliciosa tarde de maçã com gelado de baunilha - desta, não sobrou migalha.
Com uma cara destas e um sorriso just for you guys, como poderíamos deixar de trazer esta recordação da época?

do outro lado

Em rigor, o outro lado daquele outro lado.
Este outro lado é fundamentalmente deserto, apesar do enorme volume de trânsito que parece não parar. Ainda assim, há alguns espaços vazios... muito vazios...


Norte do Arizona







E, para quem não acreditava, aqui é possível ver a torre Eiffel e a estátua da Liberdade no mesmo dia - ou melhor, na mesma rua e ao mesmo tempo (apesar de as fotos o não provarem...)


17 outubro 2008

um dia...

Almost paradise...

16 outubro 2008

every word i said

14 outubro 2008

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?

Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...

Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,
Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas que me emprestaram eu sigo no mundo!
Quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!
Quanto que me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!

À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.
À direita o campo aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa onde estou fechado,
Que só posso conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.

À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.
Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.
Talvez à criança espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima.
Fiquei (com o automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real.
Talvez à rapariga que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento térreo,
Sou qualquer coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,
E ela me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi.
Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?

Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?

Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida.

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...


Álvaro de Campos
11/5/1928

malas à porta

Hoje tive as malas à porta. As minhas malas à minha porta.
Naturalmente que não pensei no que faria se fosse gaja (embora se fosse certamente tivesse tido quem mas trouxesse para cima, dois andares sem elevador, duas malas e o baixo, até que tinha dado jeito), mas pensei por que raio são só as minhas malas que cá estão, sem companhia.
Pensei em há quanto tempo são só as minhas malas que partem comigo, que regressam comigo, as minhas malas, com a minha roupa e com as minhas coisas; pensei em por que raio de razão não há mais malas para trazer com as minhas, mais roupa (mais que a minha...) para trazer misturada com a minha; pensei no que está certo e no que está errado, no que devemos ou não ter e procurar ter na vida, no que devemos ou não trazer na bagagem. Pensei, também por causa das horas e dos fusos, que não me deixaram dormir, que mereço ter mais malas para trazer para cima, o exercício faz-me bem e é mais um ponto a meu favor, ser gentil e carregar com elas; que, mais que merecer, preciso ter mais bagagem para completar a minha, mais malas para colocar naquelas prateleiras vazias que estão para ali.
As minhas prateleiras vazias.
As que eu mandei fazer a mais, que eu sei que o meu espaço nunca vai ser totalmente meu se continuar a ser só meu; o espaço que eu sei que um dia vai faltar, entre sapatos e casacos e mais sapatos, aqueles que têm o número certo. Um dia...
Eu espero. Tu sabes que eu espero.

fusos

A estas horas estou normalmente a dormir.
A estas horas? Ainda estou a habituar-me à ideia de que já não são 10 da noite.
Não faz mal, posso sempre escrever.

10 outubro 2008

viajar

Que tal estar na praia, subir a Torre Eifel, ver a estatua da liberdade, as piramides do Egipto e andar de gondola em Veneza? Bom?
Que tal fazer isto tudo num so dia? Priceless.

05 outubro 2008

Just before I go...

stand by

Por mais uns dias.
Desta vez não por opção, mas pelas limitações técnicas que se avizinham - embora devesse tentar replicar o último período sabático e os muito positivos resultados por ele (ou com ele) alcançados. Ainda que esses resultados estejam a ser pouco mais que uma aula prática sobre o Paradoxo de Zenão.
Até já, num outro fuso horário e certamente sem acentuação.

02 outubro 2008

a bridge too far

Operation Market-Garden was an Allied attempt to break through the German lines and seize several bridges, with the main goal of taking the bridge over the Lower Rhine near Arnhem, in the occupied Netherlands during World War II.
Before the operation, British Lieutenant-General Frederick A.M. Browning, deputy commander of the First Allied Airborne Army told Field Marshal Bernard Montgomery: "I think we may be going a bridge too far."

01 outubro 2008

fitness





Ainda há quem diga gostar de mim...