08 janeiro 2007

II – nunca se sabe… (still)

Parei à tua porta, destranquei o carro.
Entraste com o teu “Olá” e com o teu sorriso, dando-me um só beijo na face. Era a terceira ou quarta vez que nos víamos este século, com o jantar como motivo central para o encontro. Ou como desculpa. Confiei, como quase sempre, na tua escolha: tornava-me a vida mais fácil e não corria o risco de não te agradar.
Naquela mesa escura – iluminada por toda aquela luz – na esplanada que parecia reservada exclusivamente para nós, não sei de que falámos, tens um modo particular, muito teu de dizer as coisas. De me dizer coisas, mesmo quando não falas. De me cegar com toda aquela luz, que não parava e eu já nem tinha que mentir a cada defesa tua. Eram de certeza mais que sinais, o que eu via e ouvia, e eu quase que sabia…

Cheguei cedo ao escritório, bem mais cedo do que o habitual, bem mais sorridente que o habitual: era um casual month, regra ditada pelo muito calor, ainda bem. Café da máquina, precisava mesmo, acompanhei-o com o último cigarro do maço comprado na véspera, “é só um, não fumo há meses, não vai ser um que me vai fazer mal…”.
Por sorte (ou talvez não), tinha um compromisso que me obrigou a mais de meia hora de carro. O carro seguia devagar mas eu sobrevoava a estrada e, lá em cima, saboreava de novo os cigarros fumados na véspera. A sensação era forte, tanto que não consegui deixar de a compartilhar ao telefone, nem de disfarçar aquela voz embargada, mal me ouviste desse lado. Mas entendeste-me perfeitamente, ouviste-me dizer que já sabia, que tinha a certeza.
Mas o “nunca se sabe” continuava a ser verdade. E continua.

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