the hardest part?
Ele imaginou alcançar-lhe o rosto com a mão, fazendo-lhe uma pequena mas sentida carícia, enquanto esboçava um sorriso de tristeza: era um momento que ele tinha antecipado, ele sabia que, mais cedo que tarde, a Ana teria que passar por aquele processo. "E eu também... essa é que é a merda toda". Um arrepio atravessou-lhe o pescoço: era medo. Um medo enorme de ter acabado de a perder.
Mas o medo não era um exclusivo dele; aliás, ela, no meio de toda aquela energia e por detrás da autonomia aparentes, era uma pessoa imensamente dependente. E tinha pavor à mudança, tudo o que pudesse alterar o status-quo causava-lhe um enorme medo.
Mas o medo não era um exclusivo dele; aliás, ela, no meio de toda aquela energia e por detrás da autonomia aparentes, era uma pessoa imensamente dependente. E tinha pavor à mudança, tudo o que pudesse alterar o status-quo causava-lhe um enorme medo.
Medo que faria com que ela, por não querer assumir um risco, iria correr um outro... talvez muito maior.
Haveria outro modo?
Por mais que ele recusasse, teria que aceitar que aquele era o desfecho lógico, racional; por mais que ele não gostasse, aquela era a conclusão correcta, a decisão que ele mesmo recomendaria à sua melhor amiga - e ele era, acima de tudo, muito amigo dela. Por mais que doesse, era assim que estava certo. Seja lá o que for, isso de estar certo...
Mesmo estando à espera daquele momento, mesmo tendo-o antecipado milhares de vezes, a verdade é que ele não estava devidamente preparado para tomar consciência da realidade, para entender que a verdade (a que não existe...) era mesmo aquela.
Por mais que ele recusasse, teria que aceitar que aquele era o desfecho lógico, racional; por mais que ele não gostasse, aquela era a conclusão correcta, a decisão que ele mesmo recomendaria à sua melhor amiga - e ele era, acima de tudo, muito amigo dela. Por mais que doesse, era assim que estava certo. Seja lá o que for, isso de estar certo...
Mesmo estando à espera daquele momento, mesmo tendo-o antecipado milhares de vezes, a verdade é que ele não estava devidamente preparado para tomar consciência da realidade, para entender que a verdade (a que não existe...) era mesmo aquela.
Porque aquela não era a verdade; ou, a ser, era apenas a conveniente.
A verdade? Ele conhecia-a - ou melhor, eles conheciam-na: tinham-na visto nos olhos um do outro, numa daquelas tantas poucas vezes, num daqueles imensos curtos momentos em que tinham tido aquele quase tudo. Tinham-na visto, tinham-na ouvido, cheirado, sentido, tocado, verde no castanho, castanho no verde...
A verdade? Ele conhecia-a - ou melhor, eles conheciam-na: tinham-na visto nos olhos um do outro, numa daquelas tantas poucas vezes, num daqueles imensos curtos momentos em que tinham tido aquele quase tudo. Tinham-na visto, tinham-na ouvido, cheirado, sentido, tocado, verde no castanho, castanho no verde...
Era essa a verdade.
Ela tinha que o deixar ir.
Ele não queria ir, não queria cometer mais um erro, numa vida cheia deles.
"Se ao menos as coisas pudessem ser diferentes..."
Mas não eram.
Mas não eram.
Mas não são.
3 comentários:
:-) o tal sorriso triste?
Acabaste de descrever um episódio da minha vida, eu não o teria decrito melhor. Agora conta-me, como se pagam estes episódios??? É que não quero mesmo voltar a ver o meu...
Não se apagam. E ainda bem.
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