Existe um sentimento negativo generalizado para com os americanos, que, aparentemente, se estende para fora da sociedade portuguesa, ultrapassando inclusivamente fronteiras europeias, verificando-se uma situação de um quase "todos contra eles".
Devo confessar que também eu, dentro de determinados limites, comungo desse sentimento, acho-os um povo que é, mais do que estúpido, estupidificado. E não me falem do presidente deles...
Mas devemos reflectir: de que americanos não gostamos nós? Dos 45 milhões de hispânicos? Dos 36 milhões de pretos ? Dos 12 milhões de asiáticos? Dos 30 milhões de californianos? Dos 9 milhões de nova-iorquinos? De quais deles não gostamos: de todos eles?
Eu tive a oportunidade de visitar, ainda que de forma breve, 8 dos estados que constituem aquele país - se bem que de modo distinto, nas primeiras vezes tive apenas um olhar de turista, da última vez em trabalho e a avaliar o modo de trabalhar daquela gente, tentando retirar ensinamentos das observações feitas.
Desta última vez, a minha opinião alterou-se.
Este povo heterogéneo é constituído, na maioria, por descendentes de imigrantes que procuraram uma vida melhor, que tentaram o sucesso - material, que seja, que quase sempre se confunde com o conceito de felicidade.
Daquilo que eu pude observar agora, nesta última ocasião, existe a oportunidade de sucesso, basta trabalhar para o obter: e aqueles tipos trabalham que nem uns loucos, sendo certamente por isso que são o país mais bem sucedido do mundo que conhecemos. Para exemplo, a produtividade que medi nos operários deles é pelo menos 5 vezes superior à medida nos operários lusitanos que desempenham funções similares - dado imensamente relevante para o sucesso, quer do negócio que depende desses mesmos operários, quer dos próprios operários, que vêem o rendimento e, eventualmente, o posto de trabalho comprometidos, num cenário de baixa produtividade.
Tudo isto não os isenta de serem um povo de comedores de hamburgueres e afins, de constituirem o povo mais obeso do mundo, nem de serem do mais ignorante sobre tudo o que se passa fora do país deles (do bairro deles, para ser mais exacto, mas não quero parecer exagerado). Mas adquiri um respeito particular pelo modo duro como vivem o dia-a-dia, pelo brio que demonstram na excelência do "fazer bem" e pela noção de serviço que têm, tentando sempre ir mais perto das necessidades daqueles a quem servem (cliente, entenda-se). Uma certeza fica deste lado: aqueles tipos não têm uma vida fácil, tornam-na mais fácil trabalhando muito. MUITO, mesmo.
Mas uma coisa não posso deixar passar em claro: ouvir opiniões cáusticas sobre este país que culminam com o aproveitamento das regalias e das possibilidades que este mesmo país, até então odiado e criticado, vai proporcionando. Não faço ideia se existe algum factor genético, talvez o facto de existir um pai marinheiro (eventualmente igualmente maldizente) sedeado temporariamente numa qualquer base naval americana esteja na origem desta predisposição; mas faz definitivamente parte daquelas coisas que me incomodam.
Eu, por exemplo, nunca iria a um concerto de uma determinada banda. Nem coberto de ouro.
Nem que seja por uma questão de coerência.