06 agosto 2010

fabuloso

ou No tempo em que os animais falavam. Mal.

Um belo dia de um tórrido Verão, a Mula encontra a Ratazana Careca.
Fazia tempo que não se viam, decidiram matar saudades dentro de um copo - ou vários, que a Mula sempre gostou muito de beber muito, olhos vermelhos e dentição como prova.
A Ratazana, mais venenosa que astuta, logo viu uma ocasião para pegar numa deixa e contar histórias de um passado distante; pequenina e careca, cobarde e complexada, aproveita a ébria audiência para ir acrescentando pontos aos contos que julga ter para contar, servindo-se da Mula como muleta para conseguir enfunar-se naquela fantasia. Mas era evidente que a Ratazana, careca, tinha sido fortemente afectada pelos factos daquele passado com mais de uma década, qual Raposa sem uvas.
A Mula, ligeiramente mais estúpida que desonesta, viu na Ratazana, a careca, e nas fantasias desta uma muleta de sustento a acções passadas e insustentáveis; arrogante e desbocada e que escolheu claramente o papel de bêbado conhecido em detrimento de uma mais discreta figura de alcoólico anónimo, botou a boca no trombone e a letra no jornal de parede, tentando vingar-se de um acto justo e justificado de um outro animal em defesa de um terceiro, atirando pedras aos dois.

As pedras? Passaram ao lado, chamaram a atenção apenas pelo ruído causado no charco onde tombaram. Os alvos? Ficaram incólumes, é arquivo morto: a momentânea Toupeira deixou de o ser, abriu finalmente os olhos, fugiu da Cobra que a hipnotizava e voltou a ser quem nunca devia ter deixado de ser.
A Mula? Contente naquele minuto, provavelmente esqueceu no minuto seguinte, ajudada pelo escocês novo.
A Ratazana? A careca? Essa voltou para casa, onde continua a viver da esmola que por lá recolhe. E vai continuando a imaginar qual poderia ter sido o sabor das uvas...

2 comentários:

Tulipa Negra disse...

Depois desta, La Fontaine está às voltas no túmulo!
Beijinhos

cai de costas disse...

Definitivamente!