22 março 2010

surdos

Nunca cheguei a perceber qual das partes padecia da crónica falta de audição, ou se ambas; nem sequer se foi essa a doença que os fez sucumbir. Mas foi uma das causas centrais e seguramente a mais visível para uma morte que se fez anunciar ao longo de semanas, dolorosas semanas, em que por mais que gritassem de dor não se conseguiam fazer ouvir. Aliás, conseguiam, a espaços, sempre que o tom de voz baixava (e com ele as guardas), e nesses raros momentos a harmonia que tinham em tempos conhecido voltava a ser uma realidade.

Mas não bastavam, esses raros momentos, e até nessas ocasiões faltava sempre algo mais: provas, confiança, palavras; silêncio, tranquilidade, serenidade. E talvez até um rumo comum - ou uma velocidade igual para chegar a um objectivo, que pôde até ter sido comum, mas que teimou em não o parecer.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Nas cinzas de uma correspondência de amor destruida, há sempre pedacinhos de duas almas" (Theophile Gautier)
bjs
R

Nothing to say disse...

Queria agarrar em alguma parte que tenha gostado mais, mas torna-se impossível, pois todo o texto em si diz tudo.
Fiquei emocionada ! aha.
Adorei *