13 outubro 2009

dentro de casa

Nunca entendi as motivações de quem, a partir de determinado momento, confunde valores com valores, colocando em primeiro lugar aqueles que trazem um aparente maior conforto; e também não entendo que alguém entenda que o conforto do conforto possa alguma vez confortar mais que a paz de espírito que nos permite dormir descansados todas as noites.
Contam-nos histórias, diferentes versões de uma mesma realidade que aparentemente não tem explicação, que ouvimos com um sorriso distante: acontece sempre aos outros. Até porque aqueles que estão perto de nós seriam incapazes de tais acções, afinal sabemos bem quem são, foi uma vida inteira de convívio e sempre estiveram do nosso lado quando, connosco, ouviram as mesmas tais histórias e as condenaram mais amiúde e com maior veemência do que aquela indicada pelo nosso distante sorriso. Até ao dia.
Até ao dia em que verificamos que é mesmo verdade que o conforto do conforto conforta mais que dormir à noite, que verificamos que continuam mesmo a dormir à noite, quando nem querem saber que é deste lado, afinal, que não se dorme a essa hora. A esta hora.
Afinal, se pensarmos bem, sempre soubemos quem são, apenas nunca nos questionámos a esse respeito, nunca colocámos as personagens no cenário das diferentes versões da tal realidade que nos contam: talvez encaixassem bem, estivessemos atentos aos exemplos passados. Talvez na perfeição.
Ou talvez seja eu que sou um anormal.


A outro propósito, mas agora mesmo a propósito, tinha ali este post guardado como draft. Nada como colocá-lo "cá fora" agora.

3 comentários:

Anónimo disse...

Anormal talvez não, diferente sim

Ser Diferente

A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

Reporter Da Vida disse...

Ainda te lembras da minha pessoa blogger? :D

Anónimo disse...

Tens talento, fico espera do livro com dedicatória especial, beijo. Lagarto