pela estrada de Sintra
- Que cara!
- Tu sabes que eu tenho esta cara... mas não te preocupes, esta cara não significa que estou zangado, quer dizer apenas que estou a pensar... com força.
...
Essa impressão que te dou, essa de te sentires uma criança? Não é infantil que te sentes, a origem dessa sensação é outra: eu deixo-te ser, é tão simples quanto isso.
Eu deixo-te ser o que nunca foste. E tu és.
Nunca foste porque nunca tiveste coragem de ser, sempre te terás assustado no momento em que podias ser. E, no único momento em que decidiste ser, não o foste por querer mas apenas porque assim decidiste, estava na hora e o tempo passava depressa e tiveste medo de o perder. Ao tempo. Decidiste não por ser certo, mas por não ser errado; nem decidiste por quereres decidir, mas antes por quereres não deixar de decidir.
E não, não te posso recriminiar, não posso reclamar, eu nem sequer te facilitei a vida pegando no telefone, não quis entender as tuas palavras escritas e explícitas... ou não consegui entender. Ou por não conseguir acreditar - não por não em ti, ou nas tuas palavras: por não acreditar em mim.
- De que adianta agora?
- De nada... Agora, temos que ir para Lisboa, mesmo querendo voltar para Sintra.
(*)
Ao volante pela estrada de Sintra,
Sem luar mas ao sonho, na estrada que nunca é deserta,
Guio depresa, mas quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Sintra deixada ou Lisboa a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Passei a tarde em Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, antes de chegar a Lisboa , terei pena de não ter ficado em Sintra.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
Na estrada de Sintra, cada vez mais longe de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de ti...
* Inspirado no original
1 comentário:
Gosto de te ver assim poético...
Apetece me comentar: viva o amor...
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