21 março 2013

primitivo

Não sei escolher as mulheres da minha vida.
Deste a primeira.
Deve haver quem consiga analisar o factor que está na génese desta minha deficiente capacidade social, que tem vindo a provocar frustração, dor, lágrimas e outras manifestações que mantenho comigo: até hoje, eu não consegui. E deixou de me caber nos dedos a quantidade de desaires. Exceptuando a que ainda não, todas as escolhas erraram, todas as geografias falharam, todas idades, tezes e tonalidades – mesmo quando as escolhas não o foram.
E nem mesmo a jusante consigo ser ter sucesso na manutenção de uma relação tranquila e estável com quem deveria ser, se nunca simples, pelo menos mais fácil.
Sei que não sei.
Desde a primeira.
Mas não me conformo com esta espécie de sina e continuo a tentar, a querer saber. Para alcançar este saber, terei antes que chegar ao outro, ao saber de onde me vem esta inaptidão que não me permite acertar.
Desde a primeira.
Ou será por causa da primeira?
Mas essa, quem escolheu não fui eu.

19 março 2013


Aquele olhar duro e severo intimidava-me.
Aquele olhar, que talvez passados todos estes anos eu entenda sem efectivamente compreender, manteve-me distante, receoso de falar, de pensar, de decidir. Até de ser…
Já num tempo para cá do tempo eu que eu deixara de crescer, aquele olhar amoleceu e deixou que a distância encurtasse. Consegui então olhar para aquele olhar de frente e de modo diferente, mais próximo e condescendente, mais respeitoso que autoritário, mais orgulhoso que exigente. Ainda que sempre severo.
Tenho saudades daquele olhar duro e severo; mas não menos daquele olhar por fim carinhoso, quase infantil e assustado com que acabou por se retirar.