07 outubro 2010

a parte de trás das árvores

Lembro-me de, numa das distantes aulas de Ciências da Natureza da Instrução Primária, naquilo que agora deve constituir qualquer coisa como o Estudo do Meio no Primeiro Ciclo, ter aprendido a determinar o Norte através da observação do tronco das árvores - embora não me tivessem então explicado que tal técnica funciona apenas no hemisfério norte e acima do paralelo 24. Fora este conhecimento, totalmente inútil, diga-se, já que nunca determinei o Norte daquele modo, não me recordo de ter alguma vez aprendido qualquer outra técnica de orientação que inclua árvores, pelo que a expressão "vou ali atrás daquela árvore" sempre me causou enorme estranheza e uma curiosidade proporcional: como determinar com exactidão a parte de trás - ou da frente, ou um dos lados, para o efeito - de uma qualquer espécie arbórea.
Devo admitir que, em tempos idos e na falta de melhor, chequei a dedicar algum tempo ao tema e, embora sem nunca ter defendido tal tese, considerei enverdar pela observação da abordagem de um canídeo, já que, em hipótese, um cão não tem vergonha, pelo que não teria qualquer tipo de hesitação em utilizar a parte da frente da árvore. No entanto, sendo os nativos da cidade da minha mais recente morada igualmente desprovidos de vergonha (não que tenham mais traços comuns, a comparação não tem qualquer sentido depreciativo), larguei definitivamente quer a teoria, quer a vontade de a testar: a teoria, pois a ausência do embaraço faz com que usem indistintamente qualquer quadrante da planta; a vontade de a testar, dado o elevado risco de náusea pelo simples facto de passar a menos de dois metros de qualquer árvore nesta terra.
Não obstante não conseguir obter uma resposta à questão, sei que procurei já e com sucesso as traseiras de diversas espécies vegetais de grande porte: para me esconder, nos jogos de criança, para me defender do calor, em momentos de Sol intenso, para me proteger de carros em potencial despiste, ao assistir a provas desportivas, para me resguardar de olhares indesejados, ao tentar um beijo, ou simplesmente para lá ir, em momentos de aperto; não obstante o aparente sucesso na procura, a ausência de resposta à minha questão continua a produzir alguma perturbação - mental, ao que parece.

79 horas sem fumar... devo estar na fase do delírio...

2 comentários:

Tulipa Negra disse...

Ah, a fase do delírio só começou agora? ;D

Carolina disse...

Fantástico, adorei :)