29 abril 2010
23 abril 2010
o átomo a mais que se animou
Sei que não tens culpa – ou antes, sei que alguma hás-de ter, todos temos pecado dentro de nós que deixamos sair a espaços.
Sei que te tenho culpado por coisas que são humanas, por actos banais, por gestos e palavras que tens e tens muito bem. E sei que tenho olhado pouco para mim, que sou também humano nos mesmos actos e nos meus erros, que digo palavras e faço gestos, se não iguais, pelo menos parecidos com os teus, mesmo que diferentes dos teus.
Sei que te tenho exigido coisas que talvez nem sejam exigíveis, afinal somos humanos e humano é errar e ficar aquém da perfeição; e que tenho tido a presunção, a errada presunção, de que erro menos e que estou mais perto dessa perfeição, digo-te que te quero mais igual a mim nessa pretensa perfeição. Sim, eu, que me farto de te dizer que não queiras que eu seja mais igual a ti, porque eu sou mesmo só igual a mim mesmo – e até digo que gosto de ser igual a mim mesmo e que quero continuar a ser. E não tenho o direito.
Podias fazer melhor? Podias, claro, é sempre possível fazer melhor, também eu podia e tantas vezes não faço, ou por não ter visto, ou por não ter pensado melhor, ou por ter pensado mais em mim que em ti; quando, na verdade, talvez tu não pudesses ter feito tão melhor quanto isso, tu que tentas e até fazes tão melhor que a maioria. E, por mais que eu te culpe, não tens culpa de ser como és e de sentir como sentes e de dizer como dizes e de sofrer como sofres – porque eu até sei que sofres.
E depois, no meio das exigências e das culpas, no meio dos ciúmes e das acusações, por entre palavras mal ditas e outras mal ouvidas, chegámos onde estamos e não sabemos sair de onde estamos – até talvez por nem sabermos exactamente onde estamos. Sabemos apenas que queremos sair daqui, mesmo sem sabermos onde fica o ali para onde queremos ir, sem sabermos se nesse ali nos vamos encontrar, se vamos para lá sozinhos ou acompanhados, até porque não sabemos se esse ali fica aqui ao lado, se do outro lado do mundo, se precisamos de passar nuvens de cinza para lá chegar. E depois, no meio de exigências de perfeição, de culpas atribuídas a quem tem apenas culpa de ser pessoa e de agir como tal, imperfeita e atraente, após acusações e invenções, estamos aqui, a saber que queremos sair daqui e a teimar em não sair daqui, porque ao menos aqui tu estás, ao menos aqui eu estou, mesmo que doa ter o medo diário que tu já não estejas, mesmo que assuste ter o receio eterno que eu já tenha deixado de estar.
Este aqui, este estar sem estar, este dever sem ter, este ter sem dever, este aqui é lugar nenhum, é buraco sem fundo onde se cai e de onde se torna difícil sair; neste aqui não podemos mais estar, não podemos mais ficar, é um aqui no qual temos que evitar cair. Mesmo sem saber para onde, deste aqui, qual cântico negro, deste aqui temos que urgentemente fugir.
Sei que te tenho culpado por coisas que são humanas, por actos banais, por gestos e palavras que tens e tens muito bem. E sei que tenho olhado pouco para mim, que sou também humano nos mesmos actos e nos meus erros, que digo palavras e faço gestos, se não iguais, pelo menos parecidos com os teus, mesmo que diferentes dos teus.
Sei que te tenho exigido coisas que talvez nem sejam exigíveis, afinal somos humanos e humano é errar e ficar aquém da perfeição; e que tenho tido a presunção, a errada presunção, de que erro menos e que estou mais perto dessa perfeição, digo-te que te quero mais igual a mim nessa pretensa perfeição. Sim, eu, que me farto de te dizer que não queiras que eu seja mais igual a ti, porque eu sou mesmo só igual a mim mesmo – e até digo que gosto de ser igual a mim mesmo e que quero continuar a ser. E não tenho o direito.
Podias fazer melhor? Podias, claro, é sempre possível fazer melhor, também eu podia e tantas vezes não faço, ou por não ter visto, ou por não ter pensado melhor, ou por ter pensado mais em mim que em ti; quando, na verdade, talvez tu não pudesses ter feito tão melhor quanto isso, tu que tentas e até fazes tão melhor que a maioria. E, por mais que eu te culpe, não tens culpa de ser como és e de sentir como sentes e de dizer como dizes e de sofrer como sofres – porque eu até sei que sofres.
E depois, no meio das exigências e das culpas, no meio dos ciúmes e das acusações, por entre palavras mal ditas e outras mal ouvidas, chegámos onde estamos e não sabemos sair de onde estamos – até talvez por nem sabermos exactamente onde estamos. Sabemos apenas que queremos sair daqui, mesmo sem sabermos onde fica o ali para onde queremos ir, sem sabermos se nesse ali nos vamos encontrar, se vamos para lá sozinhos ou acompanhados, até porque não sabemos se esse ali fica aqui ao lado, se do outro lado do mundo, se precisamos de passar nuvens de cinza para lá chegar. E depois, no meio de exigências de perfeição, de culpas atribuídas a quem tem apenas culpa de ser pessoa e de agir como tal, imperfeita e atraente, após acusações e invenções, estamos aqui, a saber que queremos sair daqui e a teimar em não sair daqui, porque ao menos aqui tu estás, ao menos aqui eu estou, mesmo que doa ter o medo diário que tu já não estejas, mesmo que assuste ter o receio eterno que eu já tenha deixado de estar.
Este aqui, este estar sem estar, este dever sem ter, este ter sem dever, este aqui é lugar nenhum, é buraco sem fundo onde se cai e de onde se torna difícil sair; neste aqui não podemos mais estar, não podemos mais ficar, é um aqui no qual temos que evitar cair. Mesmo sem saber para onde, deste aqui, qual cântico negro, deste aqui temos que urgentemente fugir.
Publicado por cai de costas às 07:54 3 commentários
Índice dedicatória, intimo, literatura da treta
16 abril 2010
and in the end?
There's nothing new...
Publicado por cai de costas às 10:40 3 commentários
Índice intimo
Subscrever:
Mensagens (Atom)