28 outubro 2011

Não sem ajuda, mas tamed: merci glupi.

25 outubro 2011

the monster within

Não, não é esse que é conhecido: é outro, que está bem lá dentro.
Pensei que o conhecia, mas enganei-me. É muito maior e bem mais influente que alguma vez pude pensar.
Não sei quando nasceu mas tem muitos anos e existia muito antes de eu ter dele consciência – ou talvez nessa altura o confundisse com outra coisa qualquer, sem nome nem definição, apenas sensação. Com o tempo, passei a conseguir identificá-lo e, nem sempre sem ajuda, a controlá-lo, deixando-o mais ou menos silencioso, mais ou menos ausente, por vezes com tanta eficácia que quase esqueço que existe. Não sei como se alimenta, como cresce, e embora já tivesse anteriormente suspeitado, estou agora seguro que também as distâncias o alentam e avivam, tornando-o ininterrupto, presente numa continuidade desconcertante. E agora, depois das distâncias e mesmo quando elas se encurtam, praticamente sem ajuda que muitas das ajudas desajudam, tenho que o carregar sabendo que de vez em quando tenho que descarregar por causa dele, levando à frente tudo o que está à frente – e, geralmente, tudo o que está nessa frente é tudo o que está mais perto; e, geralmente, tudo o que está mais perto está mais perto pelas melhores razões, o que faz com que, pelas piores razões leve à frente tudo o que está mais perto.
Pensei que o conhecia, mas enganei-me. E, no processo, talvez ande a enganar os que vão à frente por estarem mais perto. Que eu não quero que vão.
E, aqui junto ao Índico verde, chega de água com sal a sair do azul do Negro.

11 outubro 2011

nem eu

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri

Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter
Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez,

Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar;
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.



Fernando Pessoa

06 outubro 2011

caleidoscópio

Mais uma vez, rumei ao Negro, para tentar dar brilho a um Azul que o tinha perdido, que eu temia estar a perder.
Mais uma vez, o Negro ficou por ver, perdido no verde das montanhas que ficam a caminho dele, demasiado distante para uma viagem tão curta
Com a ajuda de um céu azul, o Azul foi-se abrilhantando, apesar da minha desajeitada desajuda desajudada pelos meus desajeitados temores habituais.
O brilho regressou, senti-o quase sem o poder ver, instantes antes de ter que voar em direcção ao verde quente que ainda me espera deste lado, que deixei de saber se ainda me espera por muito tempo, que mudam as mãos que coordenam os tons que determinam as minhas paragens e as minhas viagens. Que seja pelo menos até que o calor deste verde esmoreça e até que o verde natal volte a ser verde e a aquecer, que vai haver muito Azul até lá.